Nesta quarta-feira, às 20h, o auditório da CIC em Teutônia será o palco da apresentação de encerramento da turnê do projeto Viva Dadá – Corta e Cola: A Montagem, marcando o fim de uma jornada artística que percorreu dez municípios gaúchos.
Em um depoimento emocionado, o ator, sociólogo, dramaturgo e fundador do Teatro Social Antônio Lopes, fez um balanço dos resultados sobre a turnê e as experiências em apresentar o dadaísmo no teatro, com reflexão social.
“Chegamos ao fim dessa travessia com o coração repleto de aprendizados. O Viva Dadá se mostrou, acima de tudo, um exercício de resistência poética, um percurso por terras nem sempre férteis, onde buscamos semear sensibilidade mesmo onde o solo parecia árido.”
De acordo com Lopes, levar um espetáculo que fala de liberdade e questiona o senso comum demandou mais do que esforço físico. “Exigiu alma. Houve dias em que o silêncio da plateia era mais intenso que o cansaço, e outros em que um simples gesto de acolhimento, das cidades que percorremos, valia por todos os aplausos.”
Conforme Lopes, o maior desafio, por vezes, não estava em subir ao palco, mas em manter viva a crença de que o teatro ainda pode ser uma ponte, e não um muro. “E, como toda jornada que nasce no seio da família, esta também teve seus momentos de tempestade, carregando as dores e os afetos que só os laços mais profundos conhecem.”
O artista refletiu sobre o acolhimento dos municípios contemplados pelo projeto, ganhando as apresentações e oficinas de forma gratuita. “O que permanece é o que floresceu, que são as cidades que nos receberam com generosidade, como Montenegro, Bom Retiro do Sul, Estrela e Rio Pardo, nos lembraram que ainda há espaço para o humano, tanto na arte quanto na gestão pública.”
Ele afirma que em Teutônia, o encerramento também será um recomeço. “Que o palco se torne altar, e o aplauso, o sopro que reacende nossa chama. Porque o Viva Dadá é mais que um projeto, é um murmúrio insistente de que a arte permanece viva, mesmo quando o mundo parece ignorá-la.”
Detalhes do projeto e montagem
O Viva Dadá foi viabilizado por meio da Lei Complementar nº 195/2022 e apresentado pelo Ministério da Cultura e Secretaria da Cultura do Estado (Sedac), com captação via Lei Paulo Gustavo Estadual.
O espetáculo contou com a orientação cênica de Marcelo Bulgarelli, mestre e doutorando em Artes Cênicas, e direção-geral do psicólogo e ator Tony Filho, que também escreveu o texto da peça. A montagem começou a ser preparada em outubro de 2023, em Porto Alegre, a partir de uma imersão artística no Grupo de Estudo em Educação da Capital (Gempa). Durante cinco fins de semana, a equipe se dedicou a práticas de bioarte e biomecânica, inspiradas no encenador russo Vsevolod Meyerhold.
Em 2024, outros seis meses foram dedicados ao aprimoramento da técnica e ensaios do espetáculo. A colaboração com Bulgarelli, que atua na Europa e cursa doutorado na UFRGS, conferiu caráter internacional e acadêmico ao projeto.
Batizada de “Viva Dadá – Corta & Cola: A Montagem”, a peça é uma livre adaptação de quatro obras do repertório do Teatro Social: A Paixão de Cristo, Dom Quixote, A Formiga Fofoqueira e O Negrinho do Pastoreio. Personagens desses universos se entrelaçam em uma trama cômica e imprevisível, marcada pelo humor ácido e pela espontaneidade do dadaísmo.
Além do espetáculo principal, o projeto inclui oficinas de teatro para crianças e professores, baseadas na liberdade criativa dadá. Em uma das dinâmicas, os participantes reinventam o uso de objetos cotidianos, como uma vassoura, que pode se transformar em um cavalo, um microfone ou uma figura abstrata.
Os dez municípios atendidos também receberam a apresentação “Piano Aurora – Notas Para Mentes Singulares”, com o pianista Francisco Lopes, autor da trilha sonora original do espetáculo. A apresentação, que terá execução ao vivo, promove um diálogo entre a música clássica e a causa autista, reforçando valores como inclusão e valorização da vida.


