Teutônia intensifica ações de saúde mental com foco na vida e na prevenção contínua

A administração municipal lança Comitê Intersetorial, promove a “Caminhada pela Vida” e cria iniciativas para cuidar dos próprios profissionais da rede de atendimento. Especialistas alertam para impacto da vulnerabilidade social e financeira na saúde mental

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Crédito: Shutterstock

Setembro é reconhecido no Brasil como o mês da prevenção ao suicídio, representado pelo laço amarelo que simboliza a valorização da vida. Mas, em Teutônia, as ações do Setembro Amarelo buscam ir além da campanha pontual. Em entrevista ao programa Espaço Aberto na Rádio Popular, o subsecretário de Saúde, Natanael Anastácio, e a psicóloga e coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial (Caps), Daiana Bueno, reforçaram a importância da política de cuidado com a saúde mental.

“É um assunto muito caro para nós. A gente sabe que ainda é um tabu às vezes falar sobre isso, mas vemos que isso vem se quebrando ano após ano. Nós precisamos falar disso. Aproveitamos o Setembro Amarelo, mas é um assunto para o ano todo”, destacou Natanael.

O Caps de Teutônia completou um ano de atividades em julho e se consolidou como serviço de referência para transtornos mentais moderados e graves. De acordo com Daiana, o centro funciona em regime de “porta aberta”, o que garante acolhimento imediato. A equipe é multiprofissional, com médicos, psicólogos, assistente social, oficineiros e enfermagem.

Casos de urgência, como tentativa de suicídio ou ideação suicida, devem ser tratados como emergência médica. “O paciente deve ser levado diretamente ao hospital. Não precisa ser especialista para reconhecer sinais de risco. Qualquer pessoa pode agir rapidamente e salvar uma vida”, alertou.

O principal anúncio da Secretaria foi a criação do Comitê Intersetorial de Prevenção ao Suicídio, formado por representantes da saúde, educação, assistência social, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros e Polícia Civil. O objetivo é reduzir lesões autoprovocadas e mortes por suicídio a partir da análise do cenário local e da cultura comunitária.. “O comitê não vai se reunir só em setembro. Ele terá caráter técnico e científico, com reuniões mensais ou quinzenais se for necessário”, explica Daiana.

Caminhada pela Vida

Dentro da programação de setembro, a cidade organiza a “Caminhada pela Vida” nesta quarta-feira (17/9). O ponto de encontro será às 8h no estacionamento da Comunidade Evangélica Redentor. Os integrantes passarão pelo Bairro Canabarro, retornando ao Caps, onde haverá atividades surpresas. A orientação é que os participantes usem roupas amarelas ou brancas, em sinal de apoio à campanha. Em caso de chuva, o evento será transferido para o dia 24.

Além do evento aberto ao público, o dia de hoje também terá uma programação voltada exclusivamente para os profissionais da rede, com palestra show da banda Rosa’s e momento com a psicóloga Dirce Becker Delwing. “A ideia esse ano foi o cuidado com o cuidador. Os profissionais estão na linha de frente, também têm sentimentos e precisam de atenção”, aponta Natanael.

Saúde mental e o bolso

No mês da saúde mental, um dado relevante chama a atenção da saúde mental com a educação financeira. Na pesquisa mais recente do Serasa, 38% dos brasileiros relataram aumento nos gastos com medicamentos para ansiedade e depressão. Os dados revelam ainda que 33% da população compromete até 10% da renda com saúde mental. Por outro lado, 30% afirmam que gostariam de investir nesse cuidado e não conseguem por dificuldades financeiras. “É um ciclo, a dívida gera ansiedade, que leva ao consumo de mais remédios e gastos, e o peso financeiro agrava o sofrimento. Não podemos tratar saúde mental como luxo”, cita o especialista do serviço, Rodrigo Costa.

Os dados também apontam que, embora as mulheres registrem mais tentativas de suicídio, os homens apresentam quatro vezes mais mortes consumadas.

No Vale do Taquari, a taxa de suicídio chega a 18 por 100 mil habitantes, número muito acima da média nacional, que é cinco por 100 mil, e superior até ao índice estadual, de 11. É uma realidade comparável a países do Norte da Europa e da Rússia. “A depressão é doença, mas é tratável, e quem pede ajuda não é fraco. Ao contrário, é alguém que valoriza a vida”, afirma a psicóloga do Caps de Teutônia, Daiana.

Em Paverama

Além da questão financeira, especialistas lembram que fatores sociais e culturais também ampliam o sofrimento psíquico. No município vizinho de Paverama, a criação do grupo Bem-Estar busca oferecer acolhimento multidimensional, com rodas de conversa e acompanhamento de equipes multiprofissionais.

Segundo levantamento local, episódios depressivos representam 59% dos atendimentos em saúde mental, seguidos por ansiedade generalizada, esquizofrenia e transtorno bipolar. A psicóloga Agnes Vieira está envolvida na iniciativa e aponta que “pequenas atitudes seguras hoje podem evitar tragédias amanhã. O cuidado começa com a possibilidade de reconhecer nossa vulnerabilidade e pedir ajuda”, cita.

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