Pensar processos de ensino de matemática a partir de questões culturais contemporâneas. Esse foi o principal objetivo do estudo intitulado “Processos produtivos, anos iniciais do Ensino Fundamental e ensino de Matemática: um estudo etnomatemático”, vinculado ao Programa de Pós-Graduação/Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Exatas (PPGECE). A pesquisa foi realizada pela mestra Adriana Costi, com orientação da professora Ieda Maria Giongo.
O estudo contou com a participação de 18 estudantes do 4º ano do Ensino Fundamental de uma escola localizada no interior do município de Garibaldi. A Etnomatemática, referencial adotado na investigação, pode ser descrita como um campo da educação matemática interessado em abordar questões culturais nos processos de ensino e de aprendizagem.
Quando a origem cultural não é a resposta
Pelo fato de a cidade de Garibaldi ter sido colonizada por imigrantes italianos, a hipótese inicial do projeto era fazer uso do jogo de bocha, por ser um jogo tradicional da região. Na prática na sala de aula, no entanto, a pesquisadora viu uma realidade diferente. “Percebi que na escola não estudam apenas crianças da comunidade local, mas principalmente alunos vindos de outras regiões do Rio Grande do Sul, tendo em vista que várias famílias migraram por haver vagas de trabalho em uma indústria frigorífica do município”. Adriana, então, reconsiderou seu planejamento didático. Segundo ela, os familiares da maioria dos alunos da escola já haviam trabalhado, ou ainda estavam atuando, na empresa frigorífica. “O local era um assunto presente na vivência cotidiana de cada uma das crianças”, explica.
Assim, representantes do frigorífico foram convidados para conversar com os estudantes na escola sobre os processos produtivos da empresa, quantidade de funcionários, exportação de produtos, entre outros assuntos. A partir do diálogo, Adriana relacionou as questões debatidas com a matemática. “No que se refere à exportação, por exemplo, usamos o Google Maps para trabalhar cálculos de distâncias e fusos horários. Além disso, a indústria frigorífica exporta grandes quantidades de produção, por isso trabalhamos com medidas, números inteiros e classes de centena de milhar”, relata. A partir disso, a professora abordou conteúdos mais complexos do que os usualmente apresentados nos planos de estudo de matemática para essa faixa etária. No total, foram dois anos de estudo, sendo três meses dedicados à prática pedagógica.
“Trabalhar conteúdos que não estavam no plano inicial pedagógico. Conhecer os alunos e seus interesses. Inovar o conhecimento e as práticas didáticas. Necessita-se de outros processos de ensino na contemporaneidade, de novos olhares para as salas de aula”, afirma a professora Ieda. Ela também observa que os resultados da pesquisa podem incentivar professores e gestores a pensar outras possibilidades para os processos de ensino e de aprendizagem, sobretudo no campo da matemática.