Antes mesmo de se graduarem, estudantes de Medicina da Universidade do Vale do Taquari (Univates) têm o desafio de lidar profissionalmente com a perspectiva da crise sanitária que o mundo enfrenta atualmente. No dia 20 de março, o Ministério da Educação publicou a Portaria nº 356, que dispõe sobre a atuação dos alunos dos cursos da área da saúde no combate à Covid-19 (Coronavírus). As ações são estendidas aos cursos de Medicina (estudantes dos dois últimos anos), Farmácia, Enfermagem e Fisioterapia (estudantes do último ano).
Conforme o documento, é permitido que os estudantes em fase final dos cursos, em caráter excepcional, realizem o estágio curricular obrigatório em Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Pronto Atendimento (UPA), rede hospitalar e comunidades a serem especificadas pelo Ministério da Saúde, enquanto durar a situação de emergência de saúde pública decorrente da pandemia de Covid-19. Na Univates, os estudantes do 5º e do 6º ano de Medicina se mantiveram nos cenários de prática, considerando todas as recomendações do Ministério da Saúde. Acompanhados por professores e preceptores, eles desempenham as atividades em diferentes locais no Vale do Taquari.
A especialidade de Pediatria tem como cenários de prática o Centro de Atendimento Materno-Infantil (Cami), em Estrela, e o Ambulatório de Especialidades Médicas, no campus da Univates. As áreas da Saúde da Mulher (Ginecologia e Obstetrícia) realizam atividades no Cami e no Hospital de Estrela, além de no Hospital Bruno Born (HBB), de Lajeado. A especialidade de Clínica Cirúrgica tem os estudantes atuando no Hospital de Estrela e no HBB.
Uma frente de trabalho foi organizada no Call Center do setor de Marketing e Comunicação da Univates para que estudantes pudessem auxiliar no atendimento telefônico aos casos suspeitos de coronavírus. Urgência e Emergência têm como espaço o HBB e a UPA 24h, em Lajeado. Por fim, também na cidade, os estudantes desenvolvem atividades na UBS Montanha. “Todos os espaços têm feito a sua parte para receber os estudantes da melhor forma possível e com segurança”, garante a professora Maria Isabel Lopes, diretora do Centro de Ciências Médicas (CCM) da Univates, ao qual o curso de Medicina é vinculado.
A formação médica durante a pandemia
Os anos finais do curso de Medicina são de atividades práticas. Luana Paludo é uma das estudantes da Univates que está na reta final. Com 23 anos de idade, a lajeadense está no 10º semestre do curso. “Atualmente faço estágio de Clínica Cirúrgica, em que acompanhamos as atividades que ocorrem no bloco cirúrgico e atendemos nos ambulatórios de cirurgia geral e oncológica, situados dentro do hospital”, explica. O cenário de prática dos estudantes do estágio de Clínica Cirúrgica se manteve o mesmo com a pandemia — o Hospital de Estrela e o HBB.
Ela conta que, agora, os cuidados são redobrados, no caso dos estudantes que, como ela, transitam por ambientes como os hospitais. “Tivemos que adequar nossa rotina desde o início da pandemia, tanto para nossa proteção individual, dos estudantes e de toda a equipe do hospital quanto para proteção do paciente”, diz. O grupo de estudantes que, como Luana, acompanha a prática cirúrgica é supervisionado pela professora Caroline Dalla Lasta Frigeri.
A estudante Manoela Michel Kohl, de Vale do Sol, também está chegando ao fim do curso de Medicina. No 9º semestre, o cenário de prática em que estaria atuando seria a UBS Universidade, no Ambulatório de Especialidades Médicas da Univates. Durante a pandemia é a UBS do bairro Montanha, com o acompanhamento da professora Camila Furtado de Souza. Além disso, os estudantes do grupo de Manoela complementam as atividades atuando no Call Center da Univates, espaço que foi adaptado para o atendimento telefônico dos casos suspeitos de Covid-19 em Lajeado. No Call Center a supervisão é do professor Márcio Mossmann. “Tem sido desafiador”, garante Manoela. “Tínhamos um cronograma que precisou ser refeito. Está sendo bom por um lado. Temos aprendido muito sobre essa doença nova, mas eu sinto falta, sim, da prática integral”, comenta.
“Eu nunca pensei que a gente fosse passar por isso. Não nessa proporção. Até quando surgiram os primeiros casos pensei que pudéssemos não ser atingidos tão diretamente”, explica Manoela. “Com certeza se torna um aprendizado, não só para nós, que estamos na faculdade de Medicina, mas para todas as pessoas e, especialmente, todos os profissionais da saúde. Espero que isso nunca se repita”, complementa.
Luana também assegura que o cenário é desafiador. “Ninguém espera passar por algo assim durante a faculdade”. Ela comenta que a preocupação com a possibilidade de contágio é uma realidade. “Estamos mais expostos por estarmos dentro do hospital. É um local de risco, mas é o risco da profissão que escolhemos. Quem opta por cursar Medicina sabe que muitas vezes é preciso ignorar os próprios medos e seguir em frente para poder ajudar o próximo”. Para ela, a pandemia pode ajudar na preparação para o enfrentamento de cenários adversos. “Eventos desse tipo podem ocorrer a qualquer momento, então precisamos estar preparados”.
A coordenação do curso de Medicina está à disposição dos estudantes, inclusive para discutir individualmente a interrupção dos estágios dos acadêmicos que não se sentem seguros em continuar. A maioria optou por seguir com as atividades. A Instituição fornece todos os equipamentos de proteção para os futuros médicos que estão atuando em diferentes frentes. “A Univates está conversando conosco sobre nossos medos e angústias, o que nos dá mais segurança para atuar”, finaliza Luana.