Nesta segunda-feira (dia 05/08), a Univates deu início a uma programação de inovação de ensino e aprendizagem. O lançamento do projeto aconteceu durante o Seminário Personalização do Ensino Univates, com a participação do professor doutor Jorge Larrosa, da Universidade de Barcelona, que fará a assessoria pedagógica durante todo o projeto. O evento contou com a participação de 250 professores da Universidade do Vale do Taquari.
Segundo a pró-reitora de Ensino da Univates, Fernanda Storck Pinheiro, o objetivo do projeto é criar uma proposta pedagógica institucional, que resulte em novas formas de pensar a aula. “Estamos assumindo como princípios a transversalidade, a flexibilidade, a experimentação, a criação, a aprendizagem e a alteridade”, comentou. O projeto, que tem previsão de execução para os próximos dois anos, propõe uma série de ações voltadas à qualificação docente e à elaboração de diretrizes institucionais para a inovação pedagógica. “Os professores são convidados a participar da elaboração dessa proposta, a iniciar pelo evento realizado, pois esse trabalho norteará nossas ações pedagógicas daqui em diante”, esclareceu a pró-reitora.
O coordenador do Núcleo de Apoio Pedagógico, Tiago Weizenmann, apresentou a proposta que será realizada e os norteadores pedagógicos. O docente também trouxe impressões dos alunos a partir da Avaliação Institucional. “Criamos um grupo de inovação e excelência acadêmica este ano. A ideia era lançar proposta para a Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finepe) para captar recursos e, muito além disso, estudar a pedagogia universitária, trazendo inovação em ensino e aprendizagem, buscando tendências nacionais e internacionais, parcerias que incentivem a inovação acadêmica. O grupo é composto por diferentes representações dentro da Univates”, explicou.
O plano de ação envolve formação de professores para inovação pedagógica; missões docentes no âmbito internacional; capilarização da inovação pedagógica por meio de mentorias; formação continuada em parceria com o STHEM Brasil; elaboração e experimentação de projetos pilotos; remodelação de espaços físicos para a aula na modalidade atelier; consultoria para elaboração de projeto de personalização de ensino; elaboração de objetos digitais de aprendizagem; elaboração de diretrizes institucionais para a inovação; inovação pedagógica na Univates, incentivando cursos e grupos de cursos para experimentação de propostas próprias; criação da comunidade Univates de compartilhamento por meio de plataforma digital; e construção de espaço físico para apoio a estudantes.
A sala de aula como um lugar sagrado e central
O professor da Universidade de Barcelona e doutor em Filosofia da Educação Jorge Larrosa Bondía destacou em sua fala a prática da observação. Mesmo parecendo uma obviedade e sendo esquecida, a observação é uma ferramenta extraordinária. “Uma prática que poderia institucionalizar-se é uma ideia tão simples. Implantar a norma de que professores tivessem, a cada ano, de cursar uma disciplina de um curso com outro professor. Nada pode superar a experiência de aprender com os próprios companheiros. Uma das ideias mais interessantes é compor uma conversa entre professores, ver práticas inovadoras mas capilarizar com colegas, assistir a aulas de outro professor. Não para copiar ou criticar, mas para conversar, para pensar com ele, trocar. O que aqui estamos iniciando é uma conversa entre professores sobre as aulas”, explicou.
Para ele, a sala de aula é um lugar central, sagrado de uma universidade. “Antigamente o professor era alguém que dava aula. Hoje é um gestor da própria carreira. Nessa carreira há uma busca por um ranking, o que acontece na sala de aula não importa a ninguém. O trabalho em sala de aula é muitas vezes menosprezado. Há inclusive, em algumas universidades, o perfil de pesquisa e perfil de docência, como se aula fosse um castigo aos professores que não conseguem fazer uma carreira acadêmica exitosa. Nos últimos anos pensei que o lugar central da universidade já não era a sala de aula. Por isso fiquei muito feliz com este convite da Univates. Fiquei feliz em saber que esta universidade considera que seu trabalho tem a aula como centro. Aula é o lugar central da Universidade, maravilhoso ver isso aqui”, ressaltou.
O palestrante ainda enfatizou que a aula deveria continuar sendo o lugar sagrado. A Universidade tem gestão, tem biblioteca, mas isso tudo está a serviço da sala de aula como seu lugar central.
“Aula é um lugar de conexões, de atenção compartilhada. Um lugar interessante, um dispositivo atencional, que está feito para cultivar uma modalidade de atenção. E este é o problema do ensino contemporâneo. A indústria do entretenimento é feita para destruir a atenção. Esta é a queixa dos professores: não conseguir manter a atenção dos alunos. Mas é uma atenção compartilhada, todos estão atentos às mesmas coisas, isso faz as coisas terem consistências, existirem.
Imagine uma criança num parque que vê uma lagartixa. Vai correndo mostrar ao pai, pois o menino sabe que, se as outras pessoas veem a lagartixa, ela vai ter existência, consistência. Uma sala de aula é um lugar onde alguém chama a atenção para alguma coisa, um professor é um indicador, um local de atenção pública, lugar da presença”, ponderou o docente.
Saiba mais sobre o pesquisador
Com diversos livros publicados, Larrosa realizou estudos de pós-doutorado no Instituto da Educação na Universidade de Londres e no Centro Michel Foucault, da Sorbonne, em Paris. Ele defende que as instituições e procedimentos educativos sejam menos padronizados e lidem melhor com o imprevisível, já que a infância traz consigo a possibilidade do recomeço, mais do que um compromisso com a continuidade.
É membro de conselhos de redação e comitês científicos de uma dezena de revistas internacionais. Seus trabalhos, de clara vocação ensaística, se situam em um terreno fronteiriço entre a filosofia, a literatura, o cinema e a educação. Trabalhou com artistas tanto das artes cênicas quanto das artes plásticas. É fundador e coordenador-geral da Mais Diferenças, associação para a experimentação em educação e cultura inclusivas. Entre suas obras, destacam-se La experiencia de la lectura: estudios sobre literatura y formación (Laertes y Fondo de Cultura Económica); Pedagogia profana (Autêntica); Linguagem e educação depois de Babel (Autêntica); e com Carlos Skliar, Habitantes de Babel: políticas e poéticas da diferença (Autêntica). Realizou diversas compilações de ensaios e dirigiu várias monografias em revistas especializadas.
Programação segue
Nesta terça-feira (dia 06/08), durante a manhã, Larrosa ministrará a oficina “Tipos de aula: definições, diferenciações e relações”. À tarde será feita uma proposição de atividades para docentes da Univates.