Desenvolvimento psicomotor de crianças no período pós-pandemia foi tema de estudo na Univates

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Crédito: Divulgação

Um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) desenvolvido no curso de graduação em Fisioterapia da Universidade do Vale do Taquari – Univates se dedicou a analisou o desenvolvimento psicomotor de crianças no período pós-pandemia. O estudo é de autoria da acadêmica Martina Konzen Motiska e foi orientado pela professora Magali Quevedo Grave, que pesquisa o desenvolvimento infantil. O TCC propôs a avaliação do desenvolvimento infantil de crianças de 3 a 5 anos afastadas da escola na pandemia. 

A pandemia de covid-19 exigiu que a população mundial enfrentasse medidas de distanciamento e isolamento social. No Brasil, os serviços foram classificados como essenciais e não essenciais e as redes de ensino tiveram que adaptar suas metodologias, tendo na virtualização uma forma de comunicação, na tentativa de viabilizar o ensino. Diferente de crianças mais velhas, as Escolas de Educação Infantil (EEIs), que atendem as crianças menores, tiveram que instrumentalizar diretamente os pais durante o período de afastamento escolar.

O estudo foi realizado em uma EEI da cidade de Lajeado. Para a coleta dos dados, que contou com o auxílio da estudante Fernanda Carolina Valler, do curso de Fisioterapia, utilizou-se o protocolo Denver II, que avalia as áreas do desenvolvimento pessoal social, linguagem, motor fino e grosso de crianças de 0 a 6 anos com desenvolvimento típico.

Participaram do estudo 22 meninas e 19 meninos de 3 a 5 anos, tendo sido verificado que 90% das crianças apresentaram desenvolvimento inadequado nas habilidades esperadas para as suas faixas etárias. A área da linguagem apresentou maior prevalência de suspeita de atraso dentre os itens avaliados, seguida pelas áreas motora fina adaptativa, pessoal social e motora grossa.  

As pesquisadoras concluíram que, devido ao afastamento das EEIs por período prolongado, as crianças tiveram prejuízo na aquisição de habilidades psicomotoras esperadas para suas idades, comprovando a importância da presencialidade das crianças nas escolas para o desenvolvimento infantil. 

O trabalho de Martina faz parte de um projeto guarda-chuva, no qual, nos semestres 2022B e 2023A, serão avaliadas por meio do protocolo Denver II crianças de outras Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis) que cumprirem os critérios de inclusão ‒ ter até 6 anos de idade, ter estado por pelo menos seis meses na Emei antes da pandemia e ter ficado afastado no período pandêmico e retomado as atividades.  

Discussão dos resultados da pesquisa 

Conforme Martina, ela deseja continuar estudando sobre o desenvolvimento infantil e utilizar o protocolo Denver II para avaliar crianças que apresentem suspeita de atraso, sendo observadas por outros profissionais ou até mesmo pelos pais. Além disso, ela pretende atender crianças que apresentem algum tipo de atraso em seu desenvolvimento, podendo estar associado ou não a alguma patologia/diagnóstico de base.

Estudos trouxeram informações e suposições inconsistentes sobre as consequências da pandemia na vida das crianças. Muitos deles relataram questões referentes ao ensino, alfabetização e conteúdos perdidos. “Em contrapartida, nossa pesquisa trouxe dados quantitativos que mensuram as consequências da pandemia no desenvolvimento psicomotor de crianças pequenas. Desse modo, esperamos que os pais e educadores possam estar cientes de que o afastamento gerado pela pandemia e a falta de interação sistemática com os pares e professores tiveram consequências no desenvolvimento das crianças, para que também possam estar atentos e dispostos a buscar profissionais capacitados para avaliar o desenvolvimento global das crianças”, explica Martina. 

De acordo com a estudante, com a avaliação do desenvolvimento infantil, é possível prevenir possíveis déficits e promover um desenvolvimento mais harmônico. “Além disso, não encontramos estudos que tratassem especificamente da avaliação do desenvolvimento de crianças dessa faixa etária, após período de afastamento prolongado em decorrência da pandemia, o que demonstra a relevância de nossa pesquisa para o meio científico”, descreve. 

Para as pesquisadoras, o estudo revela que a avaliação do desenvolvimento infantil, em todos os seus aspectos, deve ser realizada por profissionais qualificados ‒ o que é importante para prevenir e minimizar possíveis atrasos. “Também revela que o afastamento escolar provocado pela pandemia de covid-19 prejudicou a aquisição de habilidades psicomotoras esperadas para a faixa etária avaliada em nossa pesquisa. Concluímos que a interação entre pares, mediada por professores, na EEI favorece a experimentação e o desenvolvimento de crianças pequenas, do ponto de vista social, afetivo, cognitivo, de linguagem e motor”, observam. 

Martina também pontua que, levando em conta a saúde e o desenvolvimento pleno das capacidades das crianças pequenas, este estudo propõe que profissionais com conhecimento em desenvolvimento infantil possam avaliar, utilizando protocolos e escalas padronizadas e validadas, e intervir precocemente, caso necessário. “Nessa área, o fisioterapeuta tem ampla formação, podendo ser inserido em ambientes escolares, em especial nas escolas de educação infantil, a fim de identificar e prevenir déficits no desenvolvimento”, destaca. 

Para a estudante, estar envolvida em pesquisa científica possibilita agregar novos conhecimentos e experiências que podem transformar a vida dos sujeitos participantes e dos profissionais envolvidos com o tema. “Para mim, esses conhecimentos e práticas interferem nos âmbitos pessoal, emocional e profissional. Sendo assim, penso que todas as vivências acadêmicas e de cunho científico influenciam na qualidade e na capacitação para melhor atender os pacientes e abrem portas para diferentes oportunidades”, finaliza. 

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