A população LGBTQIAP+ possui um grau de visibilidade e aceitação cada vez maior e está representada em parte na mídia. Mas como essa população se sente representada? Os participantes do movimento veem as empresas tratando o tema com naturalidade ou estereotipando a diversidade?
O interesse em descobrir a qualidade dessas representações e qual o sentimento da população envolvida fizeram com que o diplomado do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade do Vale do Taquari (Univates) Luís Augusto Schwarzer pesquisasse sobre o tema em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), orientado pelo professor Dr. Flávio Roberto Meurer.
Intitulada de “As cores que a mídia pinta: a percepção da população LGBTQIAP+ do Vale do Taquari/RS sobre suas representações na publicidade brasileira”, a monografia teve como objetivo compreender a percepção da população LGBTQIAP+ do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, sobre a sua representação na publicidade brasileira.
Luís conta que escolheu pesquisar sobre esse tema específico por diversos motivos, mas os que mais influenciaram são que ele integra a população LGBTQIAP+ e, quando pesquisou trabalhos acadêmicos com essa temática em 2019, não encontrou nenhum em nível regional que se relacionasse com o tema.
“Então senti a necessidade de dar voz a essa população, ouvindo diferentes pessoas em suas singularidades, suas experiências de vida, suas dificuldades e preconceitos que já sofreram, assim compreendendo um pouco mais sobre a percepção e história de cada um, para entender estereótipos que muitas vezes podem dificultar na aceitação e acentuar preconceitos”, conta.
Inicialmente, em seu TCC, Luis conceituou os principais temas relacionados à pesquisa, aprofundando o conhecimento sobre a história do movimento LGBTQIAP+ ao longo dos tempos, bem como as relações de exclusão e inclusão, e como a psicologia social pode argumentar sobre essas conexões. Também tratou sobre a importância da mídia e seu auxílio, mesmo que indireto, aos movimentos sociais.
Todos esses estudos foram importantes para ajudar na etapa seguinte, que consistiu em entrevistas com seis representantes do movimento LGBTQIAP+ do Vale do Taquari/RS, sendo eles um homem homossexual, uma mulher homossexual, um homem bissexual, uma mulher bissexual, um homem transexual e uma mulher transexual.
O estudo visou a contemplar a diversidade sexual e de gênero, para entender os diferentes tratamentos da mídia e o sentimento que cada um deles tem sobre a sua representação nela. Entre as perguntas realizadas pelo pesquisador estão: “Você já viu alguma publicidade brasileira que utilizasse um(a) – inserir aqui a orientação sexual/identidade de gênero da pessoa – como modelo/ator?”; “Por que você acha que, nos dias atuais, as marcas começaram a tratar cada vez mais da temática?”; “Falando sobre essas aparições na mídia, você se sente representado pelo que é exposto nas peças publicitárias?”.
Entendendo os resultados
Por meio da análise do trabalho, que foi construído com base nas falas dos entrevistados, em conjunto com as teorias e conceitos estudados, Luís concluiu que a mídia possui um papel importante em abordar causas sociais dando visibilidade e representando o grupo LGBTQIAP+.
Além disso, o diplomado também concluiu que os comentários dos entrevistados demonstraram a importância de uma representação mais plural de todos os grupos do movimento, que não acentue estereótipos e preconceitos e que vá além da visibilidade dada apenas em datas comemorativas e momentos específicos do ano.
Luís recomenda que, em pesquisas futuras relacionadas a esse tema, sejam analisadas peças publicitárias atuais, inclusive levando exemplos para um possível grupo focal criado por participantes do movimento LGBTQIAP+, focando o debate coletivo e a opinião dos pesquisados acerca de determinados exemplos.
Outra recomendação é analisar e focar as empresas do Vale do Taquari/RS, selecionando uma ou algumas para entrevistar e estudar o porquê de realizarem ou não uma comunicação com a parcela LGBTQIAP+ da região.
Luís espera com seu trabalho promover reflexões e mudanças sobre o tema. “Se esse trabalho conseguir chegar a diferentes pessoas que ainda têm algum tipo de preconceito, dúvidas, ou até mesmo falta de informação, e conseguir mudar um pouco o pensamento delas, já é outra vitória. Falando da parte mais publicitária, é de extrema importância que organizações que abordam a temática em suas campanhas e peças publicitárias prestem cada vez mais atenção na forma que vão retratar diferentes orientações sexuais e expressões de gênero, para que não acentuem estereótipos e preconceitos”, observa.