Diálogo e envolvimento. Ambas as palavras parecem ser consenso entre a maioria dos profissionais das áreas de segurança e educação diante do amontoado de sentimentos vivido por muitas famílias em função das ondas de crimes cometidos com crianças e em escolas anunciados recentemente.
Conforme a psicóloga Erica Franceschini, não é possível evitar o medo, uma vez que os crimes ocorridos não foram apenas ameaças, mas situações reais. “A ameaça é um modo de colocar as pessoas de frente com a insegurança, e hoje as escolas estão nesse imaginário: estamos ou não seguros nas instituições de ensino? Pela idade, as crianças não sabem como nomear os sentimentos. A ansiedade faz parte da nossa constituição emocional, para que possamos nos cuidar, mas se não for externada e ressignificada, podem se intensificar, causando transtornos mentais”, cita.
Segundo ela, um importante papel dos pais e cuidadores é conversar com os filhos sobre o que estão sentindo. “Não preservar a criança ou o jovem sobre o assunto, mas sim colocar a situação de forma assertiva e direcionada, considerando a casa um local seguro e protetivo. Aquilo sobre o que não conversamos gera imaginários – não falar também alimenta a ameaça. É importante que os protetores estejam atentos”, explica.
Erica comenta que é preciso traduzir para as crianças e adolescentes o que está acontecendo, mas também colocar o que está sendo feito em resposta e dar espaço para que elaborem o que estão sentindo. “É identificar com eles o quanto essas situações podem estar ampliando outros sintomas já enfrentados”.
Erica também pontua que uma das formas de reduzir a inquietude quanto ao tema é buscar identificar as medidas de segurança que estão sendo tomadas nos espaços escolares, para que se tenha uma percepção de segurança mais real, materializada.
A psicóloga acredita que toda a comunidade precisa atuar. “É necessário um preparo coletivo, uma rede de cuidado ampliada para direcionar da melhor forma essas situações. É importante que as escolas possuam protocolos para casos de ameaças ou situações mais concretas, mas que também se transformem em um local onde os alunos saibam que serão acolhidos e poderão falar abertamente sobre o que está acontecendo. Que o aluno possa se aliar com professores e colegas numa troca e forma de acolhimento, com espaços de fala e de escuta. Assim deve ser também em casa e nos meios públicos”, enfatiza.
Ações necessárias
A assistente social e instrutora de Justiça Restaurativa, Tânia Fröhlich Rodrigues, explica que as pessoas têm se preocupado muito com a segurança física e esquecido da psicológica. “Antigamente, nossos pais não falavam alguns assuntos na roda de chimarrão quando as crianças estavam junto. Parece que hoje perdemos esse filtro enquanto adultos, e as coisas estão muito acessíveis para as crianças e jovens nas redes sociais, nos noticiários”, situa.
Segundo ela, é importante refletir sobre como temos cuidado com a segurança dentro do nosso espaço, do nosso lar. “Como estamos abordando essas informações com nossos filhos? Em casa, também é preciso atenção com o que falamos e como agimos, para não causarmos pânico, medos e incertezas. Não há como controlar o acontecimento, mas sim o modo como nos posicionamos diante deles”, enfatiza.
Tânia acredita que não só a comunidade escolar precisa buscar alternativas, mas também o Município. Para ela, apenas ações em busca de paz não são suficientes. “Temos cada vez mais que promover círculos de conversa, onde cada um tenha a liberdade de falar sobre o que lhe incomoda ou aflige. Quando escutamos o outro, passamos a nos identificar com sua fala e então conseguimos ter empatia”, destaca.
Ela comenta que o diálogo não acontece da noite para o dia. “Sabemos que é um trabalho lento, mas precisamos começar. É preciso unir forças para que as rodas de conversa sejam cada vez mais frequentes e que as pessoas possam ter um espaço para solucionar suas questões e evitar conflitos”, finaliza.