O plano de Bacia Taquari-Antas, cujo diagnóstico e prognóstico foram concluídos em 2012, deve ser finalizado e transformado em projeto de lei. A afirmação é de Júlio Salecker, vice-presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica, diretor de Geração e Comercialização de Energia da Certel e coordenador dos Comitês de Bacias do Rio Grande do Sul. “Ainda falta finalizar os planos de ação, porém uma lista deles já existe. Só que precisam ir para a execução”, diz.
Ele explica que nessa lista há ações como a dragagem da parte de várzea, que envolve 15 municípios desde São Valentim e Santa Tereza até General Câmara e Triunfo. “Chove em 100 municípios que compõem a bacia e é aqui que as enchentes se concentram. É preciso dragar a parte baixa do rio e, inclusive, acredito que a mineração de cascalho precisa ser retomada no Taquari-Antas como ocorria antigamente, desde que com parcimônia”, comenta.
Para o engenheiro, não só a dragagem como também a drenagem urbana e rural são importantes para evitar erosões. “Temos ruas e bairros que inundam porque o esgoto está entupido. É preciso limpar e redimensionar, visto que há muitos tubos que foram calculados para um tamanho de bairro, que hoje está duas, quatro vezes maior. Valetas, bueiros, sarjetas e galerias”, pontua. Ele ressalta ainda que a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura, responsável por dar o aval ao plano de bacia, está disposta a dar continuidade ao trabalho.
O diretor da Certel explica que, com as cheias, houve grande assoreamento dentro da área da barragem de Bom Retiro do Sul. “Casas, pontes, árvores inteiras foram para dentro do lago, que deve ser dragado”, conta. Ele aponta que, antes das enchentes, já havia sido feito levantamento técnico, topografia, estudo de margens e de terreno, sondagens e a batimetria, que envolve traçar o perfil do leito do rio. “Mas isso se perdeu, porque houve grande alteração das margens e do leito, parte do solo nas margens foi embora e na parte baixa, parte dos barrancos cederam”, lamenta.
Curto prazo
Salecker defende que o uso e a ocupação do solo terão que ser redefinidos, proibidos ou dificultados pelas prefeituras, baseados na cota de risco. A reconstrução também não pode ser aprovada. A melhoria do sistema de alerta da Defesa Civil também é um ponto. “Ele é mais ou menos bom, mas temos que chegar no que é preconizado em lei, que é o Plano de Evacuação, com simulações inclusive. Para isso, a população em risco precisa entender e aceitar, o que aconteceu na enchente de novembro”, reflete. “Rápido também é a remoção de pessoas das áreas de risco”, reforça ele.
A médio e longo prazos ele acredita que obras estruturantes, como barragens de cabeceira para segurar a água, diques de proteção como em Porto Alegre e a dragagem serão atenuantes.
O que vem pela frente
Por fim, Salecker apontou que o pico do El Niño ocorrerá entre o fim de dezembro e o início de janeiro, mas que ainda é cedo para prever o quanto de chuva virá. “O que é certo é que não podemos mais nos basear no que pode acontecer. Tivemos duas enchentes decamilenares (que deveriam ocorrer novamente só em dez mil anos) em dois meses. Estamos em fase de desarranjo climático, ou seja, sem padrão. Pode acontecer algo grave em dezembro? Pode, e precisamos trabalhar com isso”, alerta.
A dragagem do rio é sim necessária, mas a coordenação entre as barragens, bem como a redução da cota com o anúncio de alertas de chuva severos também é importante (assunto não mencionado). Nas 2 últimas enchentes o rio já estava acima de sua cota antes da barragem de Bom Retiro, e com o nível normal abaixo de Bom retiro. O rio é uma calha gigante, e se a calha já está cheia antes das chuvas é presumível que o transbordamento ocorrerá. Outro ponto seria a construção de barragens dosadoras evitando que a água toda seja despejada de uma só vez na bacia. É preciso pensar com seriedade este assunto, com a responsabilidade que ele exige, afinal, foram mais de 50 mortes.