Tradição dos Desfiles Cívicos e Bandas Marciais pelas escolas pode estar perdida em Teutônia

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Crédito: Ronaldo de Borba Duarte

A tradição de percorrer as ruas das cidades marchando, vestindo com orgulho as temáticas que remetem à pátria em comemoração ao 7 de setembro, já não são mais vistas há alguns anos. No caso da Escola Estadual de Ensino Médio Gomes Freire, o desfile não acontece há sete anos (2017 foi o último). Já na Escola Estadual de Ensino Médio Reynaldo Affonso Augustin, a última apresentação aconteceu em 2008. Saudosos ou não, os desfiles cívicos com apresentação de bandas marciais são tradições que tem perdido espaço no calendário escolar.

Atuando na Gomes Freire há 11 anos como professor de História, Carlos Campos participou da reta final dos desfiles. Na escola, a organização do momento, que culminaria na apresentação pública em todo 7 de setembro, era organizada com o intuito de aprendizado de outras culturas. Campos relembra que as temáticas trabalhadas com os alunos, meses antes da apresentação, tinham como intuito instigar o conhecimento sobre as diferentes localidades seja a nível mundial ou local.

“Eles aprendiam sobre culinária, sobre danças, sobre a religião, dependendo do tema que era trabalhado. Sobre o Vale do Taquari, cada turma pegou uma cidade específica do Vale. Naquela ocasião nós fizemos excursões, viagens de estudo, onde os alunos foram conhecer o município que teriam que representar. Então eles faziam toda a apresentação do município, seja com a bandeira ou com o hino, seja com a parte econômica e social da cidade”, relembra o professor.

Na Augustin, o presidente do Grêmio Estudantil David Canabarro na época, Ronaldo de Borba Duarte, foi regente da Banda Marcial de 2006 a 2008. Naquele momento, os desfiles já não eram realizados e, junto à direção, o grupo decidiu retomar as apresentações. Como os instrumentos estavam sucateados, Ronaldo e os demais colegas de Grêmio decidiram angariar recursos para reformá-los. “Depois procuramos alunos que tivessem interesse em tocas e fizemos aulas para que eles aprendessem até que chegasse setembro e todos estivessem ensaiados. Então começamos a fazer os preparativos e propomos o desfile”, relembra Ronaldo.

Por dois anos, o então aluno esteve à frente da organização e execução das apresentações. Assim como na Gomes Freire, a proposta de todo preparo anterior aos desfiles considerava o aprendizado e a organização dos grupos para um único momento a ser apreciado por toda a cidade. Além disso, “a relevância para a educação dos alunos é justamente a integração, pois era do ensino médio aos pequenos, isso foi interessante o que construímos junto com a direção, que todos da escola participassem, o pessoal mais velho e os mais novos”, explica Ronaldo.

Seja com o intuito de ampliar o ensino de diferentes aspectos culturais, seja para a integração de alunos de diferentes idades, os desfiles demandaram sempre muito tempo dos docentes e alunos.

Derrocada dos desfiles

Se por um lado a tradição e o momento de saudar a pátria é relevante para todos os que participaram e organizaram os desfiles, a demanda dos docentes e alunos aumentava durante todo o ano. O trabalho em sala de aula e o cumprimento do currículo escolar definido pelas políticas estaduais confrontavam com o tempo dedicado ao preparo e ensaio dos grupos participantes.

Na Gomes Freire a extinção desta atividade foi decorrente da alta demanda organizacional anterior ao desfile o que tomava tempo das aulas propostas na grade de disciplinas. Apesar de adquirirem conhecimento com as temáticas da atividade, os alunos perdiam os conteúdos essenciais. “Não se dava mais aula. O desfile tomava muito tempo em relação à produção”, comenta o professor Carlos Campos.

Outro ponto é que a realização do desfile tem data 7 de setembro, um feriado. O desgaste da equipe técnica, docente e dos alunos era maior devido à disponibilidade de participação. Em datas como esta, que em alguns anos, caem e dias propícios para feriados prolongados, as pessoas organizam passeios ou apenas apreciam o momento de descanso. Com a indisponibilidade de participantes, as lacunas para a realização de uma apresentação eram maiores.

A visibilidade das dificuldades e das consequências dos desfiles para o todo da comunidade escolar e para as famílias pode ser uma das explicações para a derrocada destas atividades, pelo menos nessas duas escolas estaduais de Ensino Médio de Teutônia.

No Augustin, a perda desta tradição ainda não é bem definida. Ronaldo explica que, após a sua saída da escola, o projeto não foi levado à frente, “talvez por falta de liderança ou perseverança”, comenta. Em ambos casos, a decisão é de caráter da organização como um todo e não personificada.

“Então por uma decisão coletiva , que não partiu de um ou dois, foi uma decisão do corpo docente, ficou decidido em não ter mais o desfile de 7 de setembro” – Carlos Campos, professor da Gomes Freire

A importância da manutenção de uma tradição é inegável, contudo os percalços também são. As decisões de levaram à extinção dos desfiles nestas duas escolas, estão relacionadas a demanda de tempo e trabalho para a realização de um evento. O que fica em jogo são duas frentes importantes: a educação formal e a preservação das tradições.

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