Desafios e soluções para a implantação de uma Unidade de Terapia Intensiva. Essa foi a pauta do 1º Simpósio sobre UTI, realizado pelo Hospital Ouro Branco na quarta-feira (25) e transmitido na íntegra pelo Grupo Popular através do YouTube. Lideranças de todos os setores e profissionais da saúde foram convidados para o evento, realizado no auditório da Sicredi Ouro Branco.
O simpósio buscou, acima de tudo, apontar os impactos positivos da instalação de uma UTI 10 leitos na cidade, não só para a saúde, mas também para o desenvolvimento econômico-social de Teutônia e da região.
O diretor da Associação Beneficente Ouro Branco (Abob), Marco Aurélio Weber, ressalta que o HOB é um hospital de retaguarda essencial ao Vale do Taquari e referência para 38 municípios das regiões Vales e Montanhas e Vale da Luz. Porém, a casa de saúde não recebe o suficiente para se manter de forma sustentável. “Enquanto recebemos R$ 500 para uma cirurgia, ela nos custa R$ 3 mil. Nosso compromisso social é manter as portas abertas, mas para isso precisamos nos reinventar”, disse.
José Paulinho Brand, diretor executivo da casa de saúde, concorda. “O assunto UTI é velho em Teutônia; desde 2010 já se falava em alta complexidade. Precisamos pensar grande e com coragem. O que queremos ser daqui 10, 20 anos?”, indagou.
Ao apresentar os números do hospital, lembrou da estagnação da tabela SUS, sem reajuste há 12 anos, e ressaltou: a UTI é uma questão de sobrevivência. Hoje o HOB atende 85% SUS.
O simpósio teve apresentações sobre o funcionamento das UTIs dos hospitais Tacchini, de Bento Gonçalves, e Santa Terezina, de Encantado. Entre os ensinamentos estiveram o gasto inteligente dos recursos, a partir de gestão assistencial e econômica; a tomada de decisões de forma conjunta entre as equipes, baseadas em indicadores; os desafios dos hospitais de pequeno porte em cidades de pequeno porte em desfazer o conceito de que a UTI é um local para morrer; e que a UTI é a porta de entrada para o crescimento de um hospital e dos serviços prestados.
UTI no HOB
Por fim, foi apresentado o painel “Cenários e desafios da UTI do Hospital Ouro Branco”, com os médicos Guilherme Vogt e Fábio Cardoso e a mediação de Anderson Habekost, gerente de Operações, Serviços e Ensino de Saúde na Univates.
Cardoso foi claro: O Vale do Taquari não possui o número de leitos de UTI necessário. Citou o gerenciamento das vagas pelo Estado: “O paciente pode ser transferido para qualquer cidade gaúcha. Quantas famílias diariamente choram na nossa emergência por não ter como pagar o transporte ou ficar no hotel com seu parente? De janeiro a agosto de 2024, fizemos pelo menos 60 transferências de pacientes muito graves”, disse. Já para situações menos graves, que deveriam ser monitoradas por 24 ou 48h por correrem risco de agravar, não há espaço. “E quantas cirurgias deixamos de realizar por não ter a segurança no pós-operatório?”, alertou o médico.
Vogt complementou: A UTI é um extintor de incêndio, resolve o problema antes de se tornar uma catástrofe. Quantas pessoas deixamos de salvar por não ter a estrutura adequada no hospital? A mortalidade de um paciente aumenta 8% por hora durante uma transferência”, situou. A UTI é um caminho obrigatório a ser seguido. Para o médico, o hospital possui todos os requisitos, conquistados com muito esforço nos últimos anos.
“Quando o teutoniense mais necessita hoje, precisa ir a outra cidade. Para mim, como morador, é inadmissível”, Guilherme Vogt, diretor técnico médico do HOB
Argumentou sobre a falta de clareza da sociedade quanto à importância de uma UTI – mais assistência, realização de cirurgias mais complexas, profissionais mais qualificados, novas especialidades, exames de imagem, mais laboratórios, emprego e renda. “É um passo gigantesco para a qualidade da saúde e bem-estar social não só de Teutônia, mas da região. Um dos fatores avaliados por empresas e moradores ao escolher uma cidade para se instalar é a qualidade assistencial, saúde e educação”, informou.
Os sinais são claros quando à necessidade de autossuficiência da região. “A covid foi uma lição dura, mas a memória é curta. Internamos, de 2020 a 2022, cerca de 700 pacientes. Fizemos 75 transferências, tivemos sete pacientes entubados, tudo isso sem UTI. Espero nunca mais passar por isso na minha vida”, reforçou.
Por fim, Vogt citou alguns dados: Estima-se que 1 a 2% da população precise de UTI em 12 meses. Numa região com 60 mil pessoas, são mil internações em um ano. O paciente de UTI tem mortalidade média de 20%. Ou seja, nesse período, seriam 200 mortes potenciais. “Com uma UTI, temos redução média de mortalidade de 30%. Ou seja, das 200 mortes em potencial, poderíamos reduzir 60 casos com uma UTI. Em quatro anos, são 240 mortes a menos. Se isso não toca os entes públicos e a sociedade em geral, eu não vejo nada mais que possamos fazer”, finalizou o médico.
Simpósio na íntegra: