Por Camille Lenz da Silva e Thiago Maurique
A Cooperativa Languiru ingressou com ação para leiloar a planta do Frigorífico de Suínos de Poço das Antas. A gestão da cooperativa projeta estabelecer lance mínimo de R$ 85 milhões para aquisição da planta, que já foi avaliada em R$ 160 milhões. Para retomar as operações, o futuro comprador ainda terá que investir cerca de R$ 300 milhões nas atividades do campo.
As informações foram anunciadas com exclusividade à Rádio Popular na manhã desta terça-feira (10/6) pelo presidente liquidante e o superintendente administrativo e financeiro da Cooperativa Languiru, Paulo Roberto Birck e Gustavo Marques. Segundo os dirigentes, a decisão de leiloar a estrutura visa acelerar a retomada das operações e, assim, atender aos produtores que ainda aguardam uma solução.
A decisão ocorre 2 anos após a paralisação da planta, em 30 de junho de 2023, período no qual a direção da cooperativa buscou, sem sucesso, concretizar uma venda direta do ativo. Conforme Birck, algumas negociações estavam bem encaminhadas, mas acabaram frustradas. “A empresa compradora teria que incluir todos os produtores, além de adquirir insumos da fábrica de rações da Languiru. Com o leilão, teremos que compor essas condições com o comprador e negociar para que ele fique com os associados”, diz.
Em março deste ano, os produtores que forneciam diariamente um total de 1.700 animais para abate completaram 2 anos sem alojar leitões. “Alguns conseguiram se realocar em outras integrações, mas muitos ainda aguardam que o frigorífico volte a operar”, afirma Marques.
Para os gestores, o mais provável é que o possível comprador continue com os produtores integrados para facilitar a retomada das atividades. “Quem comprar vai querer produzir e, para isso, vai precisar do suíno. Quanto mais próximo estiver o produtor, melhor será essa logística”, acredita Birck.
Conforme o presidente liquidante, o negócio envolve grande complexidade e a retomada das operações demandará de capacidade logística e de mão de obra por parte do comprador. “Não é qualquer empresa que tem esse porte”, assinala.
O processo aguarda as primeiras determinações do Poder Judiciário para ser efetivado. Birck e Marques reconhecem que o trâmite legal demandará tempo. Os gestores pretendem conversar com os representantes do judiciário para explicar a necessidade de celeridade, de forma a evitar que a planta fique parada por mais 1 ano. As informações sobre o andamento do processo serão divulgadas no portal da liquidação extrajudicial e nas redes sociais da Languiru.
Credores, funcionários e resultados
O leilão do Frigorífico de Suínos de Poço da Antas também visa acelerar o processo de quitação das dívidas da cooperativa. Birck assegura que, hoje, a Languiru não possui ações trabalhistas e os débitos estão sendo finalizados. “Desde que lançamos o plano de renegociação, em julho do ano passado, conseguimos compor a renegociação de praticamente 50% do valor total da dívida”, relata.
Em relação às rescisões dos cerca de 2 mil funcionários, Marques afirma que foram quitados cerca de R$ 32,5 milhões nos últimos 2 anos, restando cerca de R$ 300 mil para completar o valor total.
De acordo com Birck, a gestão convocará uma nova assembleia para o mês de julho, com a intenção de aprovar a prorrogação da liquidação extrajudicial por mais 1 ano. “Precisamos desse tempo para renegociar a outra metade da dívida. São 2,9 mil credores com os quais precisamos conversar”, alega.
Conforme Marques, uma das soluções encontradas pela gestão foi a elaboração de um aditivo no acordo de liquidação. A medida determina o pagamento mais rápido de credores com valores a receber menores do que R$ 20 mil. “Os credores que possuem crédito de até R$ 4 mil fazem a adesão com deságio de 75%, mas recebem em uma única vez”, explica. Entre os credores com créditos a receber de R$ 4.000,01 até R$ 20 mil que aderirem ao plano, os pagamentos ocorrerão em três parcelas (30, 60 e 90 dias), também com deságio de 75%. Ao todo, 1.987 credores se enquadram na medida.
Por fim, Birck e Marques destacaram os resultados positivos alcançados pela cooperativa nos primeiros 4 meses do ano, que totalizaram R$ 40 milhões. Conforme Birck, hoje a cooperativa não depende de financiamentos e está com o fluxo de caixa organizado. “Por tudo isso, continuo acreditando na recuperação da Languiru”, conclui.