A Cooperativa Languiru e as empresas chinesas ITG e TJJT anunciaram, na quarta-feira (22/3) a assinatura de protocolo de intenções para formatar parceria. O objetivo por meio de uma ‘joint venture’ é comprar ações em quatro segmentos de produção: aves, suínos, cortes bovinos e processamento de rações. Essa proposta, deve ser aprovada pelos associados na assembleia geral do dia 30.
Após a assinatura, o CFO (diretor financeiro) da ITG, Jinhao Zhang explicou que se o acordo fechar, a empresa da China terá 60% de ações no frigorífico de aves, em Westfália; 51% no frigorífico de suínos, em Poço das Antas; 80% frigorífico de bovinos em Teutônia; e 51% na fábrica de rações, em Estrela. A CEO (diretora) do ITG, Li Ping Huang, todavia foi mais comedida. Após uma investigação e um plano de investimentos, a estatal chinesa vai definir o percentual de ações a adquirir: tornar-se acionista minoritário ou majoritário.
A CEO deixa claro que essa assinatura não garante a união. Esse é um ritual do país para mostrar interesse em compra. Agora, um grupo deve investigar a cooperativa e montar um plano de investimento, com detalhes de valores e do que pode mudar no cotidiano de produtores.
Os números totais do investimento não foram divulgados publicamente. Após, a reportagem conversou com a CEO da ITG e com o CFO. Li Ping Huang abriu a expectativa de investimentos, de R$ 380 milhões (500 milhões de Yuans) a R$ 760 milhões (1 bilhão de Yuans) em um período de até um ano. O valor pode ser inclusive maior, variando de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões, conforme o andar da parceria.
Ela menciona que a empresa foi convidada para vir ao Brasil para conhecer mais da agricultura e visitar a Expodireto, que aconteceu no começo do mês, em Não-Me-Toque. O grupo chinês está há 30 dias no Brasil, em busca de expansão no mercado de alimentos. O contato com a cooperativa e a visita à feira foi por sugestão do Ministério da Agricultura.
Ao ser questionada afirma que tem relação com a ida do presidente Lula para a China, na próxima semana. “Queremos criar uma relação e um protocolo com o Brasil. A intenção é aproveitar esse período para que os produtos Languiru possam entrar o mais rápido na China.”
EMPRESAS CHINESAS
A ITG é uma empresa com uma linha completa, que procura fornecedores de produtos naturais, como carnes. É governamental e está no ranking como 106ª no mundial. Em 2022, de acordo com Zhang tinha valor de mercado estimado em 70 bilhões de dólares. Já a TJJT é uma iniciativa privada que fez uma parceria. Juntos, elas possuem a JV Company, que atua neste segmento de proteína animal.
Por parte dos interessados serem da empresa governamental o processo de passar a alfândega e burocracia é menor. Li Ping Huang, informa que será criado um novo protocolo para essa parceria, o que agiliza o acesso do Brasil ao mercado Chinês.
Visão do mundo de negócios
O associado e empresário do segmento de condimentos com negociações na China e Ásia, André Kich, avalia essa parceria. Ele afirma que é um grupo sério, o mesmo que comprou a Minuano.
O próximo passo, pelo que o empresário conhece é a due deligence (auditoria) que avalia todas questões da Languiru. “Com isso se faz depois a avaliação interna com partes legais, ambientais, registro, trabalhista, produtividade e demais.”
Por conviver neste meio, Kich, repara que investir no ramo alimentício é uma necessidade da China. Por isso, esse grupo já tem, outros investimentos em grãos e frigoríficos. “Se der certo essa negociação, que demorar alguns meses, eu acredito que vai ser positivo para a situação da Languiru e também para a região”, completa.
STR acompanha situação
Acompanhando a situação, a presidente STR Teutônia-Westfália, Liane Brackmann, observa que é necessário tomar uma atitude, mas que os associados e produtores estão apreensivos com essa dúvida do que pode acontecer com o futuro da cooperativa.
Mesmo assim, sabe que sem negociações a Languiru poderia encarrar um cenário de aviários e demais segmentos sem animais. “O sindicato defende o agricultor, porque ele cumpriu as exigências do mercado e da empresa, de quem precisava fazer altos investimentos na propriedade. Essas questões são a nossa preocupação. Como vão honrar essas dívidas com aviários vazios.”
O sindicato não defende ter uma multinacional atuando em cooperativas, entretanto, Liane frisa que se é única saída nesta crise, é preciso ver a situação como algo relevante. “Nós do sindicato continuamos acreditando no sistema cooperativo. E já notificamos a Languiru pedindo mais informações e dados”, diz. A presidente ainda garante que o STR segue acompanhando os fatos e apoiando os produtores.
Produtores se preocupam com a venda
Já produtores de Teutônia e Westfália, que não querem se identificar, lamentam que a situação da Languiru tenha chegada a esse nível. Para eles a venda à multinacional é negativa e pode impactar diretamente na produção.
Um dos entrevistados cita que com as porcentagens previamente divulgadas, tiram a voz dos agricultores e associados. “Essas empresas visam lucro e no final, nós produtores, vamos virar escravos.”
Já uma produtora de leite, suíno e frango, fala das exigências que podem ser pedidas. “Eu tenho medo, porque nós temos três segmentos, tenho medo de que vamos ter que fechar um deles, por causa dos investimentos.”
O terceiro produtor, questiona o motivo da reunião ter acontecido na capital e de forma tão rápida. Para ele o problema da cooperativa não é o custo, é gestão. “Temos que pôr uma nova diretoria, daí os bancos vão ajudar”, finaliza.
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Tantas possibilidades de investidores brasileiros, porém, sem prospectar essa possibilidade, a Languiru toma a iniciativa de cair no colo de uma estrangeira . Que apelem para a justiça, procurem empresas brasileiras, façam acordos e até uma cooperativa tipo Cotrijal.
Pode haver um choque cultural no desenvolvimento futuro do negócio e aí pode ser tarde !