Evento em Lajeado discute agrobiodiversidade e sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis  

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Painel de debates trouxe diversos temas para discussão

A Univates recebeu na sexta-feira (7/10) o 3º Encontro da Agrobiodiversidade dos Vales. O objetivo foi discutir perspectivas e desafios para a produção de alimentos seguros.  

O evento contou com amplo painel em que foram realizadas palestras, relatos de experiências, mesas redondas, oficinas e apresentações artísticas. A intenção foi manter ativa a rede de entidades voltadas para a agroecologia, promovendo ainda debate sobre a agrobiodiversidade como ferramenta para a produção da soberania e da segurança alimentar nutricional.

Organizada pela Emater/RS-Ascar e pela Univates, a atividade reuniu cerca de 200 pessoas, entre agricultores, estudantes, representantes de entidades ligadas ao setor, lideranças e extensionistas rurais, na intenção de promover um espaço democrático que desse visibilidade a temas relevantes para a sociedade.

“A ideia foi promover formação e troca de experiências entre os atores sociais envolvidos com a perspectiva de produção e consumo de alimentos e diagnosticar desafios e potencialidades nos sistemas produtivos em construção no Vale”, destacou a extensionista da Emater/RS-Ascar Elizangela Teixeira.  

Parte da Semana da Alimentação 2022, que tem como tema “Sistemas alimentares saudáveis e sustentáveis no enfrentamento da fome e na promoção da segurança alimentar e nutricional”, o encontro dá continuidade ao debate que teve início em 2018, quando da realização da Reunião Técnica Estadual de Plantas Bioativas.

Elizangela explica que um painel tão amplo de debates oportunizará subsídios para que os participantes direcionem suas escolhas na direção de uma alimentação saudável e adequada, enfatizando a utilização de alimentos frescos, in natura ou minimamente processados ou de produção orgânica.  

“Quem tem fome tem pressa” 

A doutora em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade e docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Cátia Grisa chamou a atenção do público para as questões da insegurança alimentar que tem assolado a população que, por conta das dificuldades financeiras, reduz não apenas a quantidade, mas a qualidade do alimento consumido. Em sua palestra apresentou dados, gráficos e pesquisas que evidenciam o aumento de uma alimentação deficiente ou baseada em ultraprocessados pelos brasileiros.  

Evocando a clássica frase do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que dizia que “quem tem fome, tem pressa”, Cátia reforçou a importância de revisar e de implementar políticas públicas que resolvam no curto e no médio prazo os graves problemas de segurança alimentar e nutricional, sejam elas de promoção do acesso aos alimentos, de transferência e geração de renda e de manutenção de estoques, entre outras que possam reduzir a utilização de agrotóxicos em todo o território nacional. “Há que se incentivar coletivos que trabalhem com diversidade alimentar e que promovam Agroecologia de forma sustentável”, diagnosticou.  

Na sua pauta também estiveram a busca por oportunizar dietas saudáveis mais acessíveis, articulando ainda a agricultura familiar e os consumidores urbanos. Aliás, essa foi a “deixa” para a mesa redonda “Desafios da produção segura de alimentos”, que veio em seguida. Nela, os agricultores Marlene Grassi e Cristiano Scheibler, discutiram com o extensionista da Emater/RS-Ascar Marcos Schäfer e com a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Teutônia e Westfália, Liane Brackmann, sobre alternativas para a produção diversificada e regular em um país que está de volta ao Mapa da Fome.  

Oficinas e experiências inspiradoras  

Na parte da tarde foram inúmeras as oficinas em que assuntos como saberes e práticas de povos indígenas, inclusão de plantas alimentícias não convencionais no dia a dia, flores na alimentação, benefícios e aplicabilidade da compostagem, contribuição das plantas condimentares para a saúde, potencialidades na produção de bioinsumos, frutas nativas na culinária e plantas nativas no paisagismo foram abordados por extensionistas da Emater/RS-Ascar, pesquisadores e outros.

De forma complementar houve espaço para apresentação de pôsteres e para troca de mudas e sementes, com realização de lanche comunitário.  

O encontro foi concluído com relatos de experiências inspiradoras de coletivos sociais, cooperativas e agricultores na intenção de fortalecer a Agroecologia, promover os circuitos curtos de comercialização, resgatar a relação com os alimentos, impactar positivamente o ambiente e viabilizar a economia solidária.

“São tempos de rever nossas prioridades, investir em comida de verdade, ter consciência e pensar no futuro”, exemplificou a coordenadora da Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), núcleo Lajeado, Jéssica Barbieri de Oliveira. “Alimentação, vale lembrar, também é ato político”, frisou.  

Entre as autoridades presentes, estiveram o gerente adjunto da Emater/RS-Ascar Carlos Lagemann e o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Univates, Carlos Cyrne.

Lagemann enfatizou os desafios do agricultor familiar na busca da produção sustentável, em quantidade e qualidade. “De nada adianta estar com a barriga cheia, mas mal nutridos”, pontuou. “A ideia geral foi a de refletir sobre as realidades políticas, sociais e econômicas atualmente vivenciadas no País, que estão levando ao retorno de problemas sociais como fome, miséria, desemprego e exclusão social”, comentou Elizangela.  

O Encontro teve o apoio da Articulação em Agroecologia do Vale do Taquari (AAVT), Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica do Vale do Taquari (NEA/VT), Associação Brasileira de Homeopatia Popular (ABHP), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Centro de Orientação Holística Vida Saudável (Cohvisa) e 8º Núcleo de Cpers. A apresentação artística foi do músico Antônio Gringo.

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