Languiru reúne associados para esclarecer tratativas

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Associados da Languiru se reuniram com a direção nesta sexta-feira em Teutônia / Crédito da foto: Leandro Augusto Hamester / Divulgação

Cerca de 500 associados da Cooperativa Languiru estiveram reunidos com a direção da Cooperativa Languiru na manhã e na tarde desta sexta-feira (17/3), na Associação de Funcionários da Languiru, em Teutônia. O presidente Dirceu Bayer, o vice-presidente Cesar Wilsmann e membros dos Conselhos de Administração e Fiscal detalharam as negociações no segmento leite e as tratativas em andamento nas cadeias da avicultura e suinocultura. O objetivo é tentar sanar as dívidas e a dificuldade financeira da cooperativa, admitidas na ordem de R$ 1 bilhão. Ele ainda respondeu a perguntas feitas pelos associados.

Bayer apresentou os detalhes sobre a negociação com a Lactalis no ramo de lácteos, anunciada nesta semana. Os produtores fizeram questionamentos, principalmente quanto às adequações técnicas nas propriedades e os valores a serem pagos pela multinacional francesa. Houve dúvidas sobre custos com veterinários, inseminadores, transportadores e o futuro das instalações da laticínios da Languiru.

Nos ramos de suínos e aves, ele informou estar com as negociações adiantadas, com previsão de anúncio no começo da próxima semana. “Peço um voto de confiança para resolvermos essa questão”, solicitou. As tratativas estariam bem avançadas entre a Languiru e o parceiro. Cláusulas de confidencialidade impedem a divulgação do nome da empresa.

Surgiram dúvidas sobre as exigências de multinacionais, principalmente de exclusividade de um setor, não permitindo conciliar os três tipos de produção. A Languiru sempre possibilitou atividades conjugadas. Também está em análise o envolvimento da fábrica de rações neste pacote de negócios. Produtores associados questionam justamente o fato dos dois setores mais rentáveis – rações e leite – serem os primeiros negociados.

Os associados também reivindicaram a participação na decisão sobre os próximos passos e negociações. Lembra-se que em toda assembleia geral ordinária (anual), os associados autorizam a diretoria a negociar bem móveis e imóveis ou dá-los em garantia. Outro associado levantou a bandeira de convocação de assembleia geral extraordinária para o dia 31 de março – um dia após a assembleia ordinária. A direção informou não haver tempo hábil para a convocação.

A instabilidade econômica gerada preocupa o quadro social e a própria direção. O foco é evitar a desvalorização dos ativos e da marca Languiru no mercado. O presidente Dirceu Bayer afirma que a intenção da presidência é tranquilizar os associados e deixar todos por dentro dos acontecimentos. Por conta dos patrimônios da cooperativa, ele ressalta que não há possibilidade de ‘quebrar’. Também avalia que não é a única do ramo a passar por um momento de crise. “A Languiru vai ser a primeira a sair dessa”, projeta.

O conselheiro secretário da Languiru, Roque Sílvio Schneider, destaca que o conselho está do lado dessas decisões e sabe da situação completa. “Estamos do lado da Languiru e do lado do associado”, frisa.

A reunião com representantes dos 46 núcleos de associados distribuídos pelos municípios de atuação da Languiru é preliminar à Assembleia Geral Ordinária, agendada para o dia 30 de março. Também houve participações de: Tarciano Cardoso, da empresa Fercien; Rafael Biedermann Mariante, da auditoria PwC; Carla Gregory, gerente executiva de Controladoria; e Rafael Lagemann, o superintendente Administrativo, Comercial e Financeiro.

Pedido de renúncia

Houve momentos mais tensos e com falas mais exaltadas de parte dos produtores na parte da tarde. Uma associada sugeriu a renúncia do presidente do cargo e ensaiou o coro de “fora Dirceu”, manifestação acompanhada por um grupo de produtores. “Nós precisamos mudar o jeito de administrar a nossa Languiru. Se o senhor diz que tanto ama a Languiru, mostre saindo da Languiru”, comentou.

Em resposta, Dirceu Bayer foi categórico: “eu renuncio quando a assembleia assim o decidir. Eu fui empossado democraticamente e pretendo sair democraticamente. Se a assembleia decidir isso, tudo bem, mas não é um ‘grupo dos do contra’ que vai dizer que vou sair ou não”.

O presidente reforça que “o programa de reestruturação da Cooperativa iniciou em 2022 e precisa ter continuidade. Não podemos ficar parados assistindo. Unidos, vamos sair dessa situação”.

Parceria com a Lactalis

A Cooperativa Languiru e a Lactalis do Brasil firmaram parceria. O anúncio oficial ocorreu no fim da tarde de terça-feira (14/3). Pelo acordo, a Languiru fornecerá à empresa, em um contrato de longo prazo, todo o volume de leite in natura de seus produtores rurais – média de 350 mil litros por dia. A parceria garantirá o pagamento aos produtores e transportadores de leite. “A Lactalis já nos ajuda e a partir de agora ela assume o atraso no pagamento”, diz o presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer.

Nesta parceria, as instalações da Laticínios Languiru seguem da cooperativa. Os funcionários que a Languiru não precisar manter, para fazer uma diminuição nos custos, serão admitidos pela Lactalis, garante Bayer. “O espaço de laticínios da Languiru não foi vendido, os derivados de leite que já produzimos seguirão. O prédio já está arrendado como depósito deles, em uma parte, e eles demonstram interesse neste uso. As duas máquinas que produziam Longa Vida não são nossas, já os VTS, equipamentos nossos, serão vendidos para a Lactalis”, explica.

A marca Languiru segue no mercado, assim como os produtos que a Lactalis oferece, que serão incorporados no portfólio da cooperativa. “O queijo, que é algo que a Lactalis já tem, também vamos ter como Languiru agora”, completamente.

Já o leite Origem, que tinha processamento especial, não será mais produzido. “Não é uma grande perda porque a aceitação dele, infelizmente, não correspondeu junto aos consumidores”, explica. A rastreabilidade, que era feita por meio do QR Code na caixa de leite, também não será mais possível.

Quanto ao preço pago pelo leite aos produtores, o presidente afirma que será o preço da Languiru, e não da Lactalis.

Ele reforça que o contrato é de 5 anos apenas. “Não mais que isso. Para que possamos nos fortalecer, e tenho certeza que vamos, em termos de captação. O associado tem agora uma garantia muito grande de continuidade. A Languiru fará disso um grande negócio em favor da Languiru”, declara.

Pagamentos

Dirceu Bayer retoma que o problema da Languiru é financeiro, e está em não ter recursos – fluxo de caixa – para os pagamentos. Assim, a parceria permitirá ficar em dia com estas dívidas. Ele projeta que até a semana que vem o que está em aberto com transportadores deve começar a ser pago. Ele salienta que os transportadores serão os primeiros a receber. Outros credores “terão que aguardar um pouquinho”.

Parcerias

O presidente observa que é um momento difícil de negociação para a empresa, porém adianta que em breve pretende anunciar mais parcerias, como na área da avicultura e suinocultura. “Estamos fazendo todo possível para sair dessa situação e nós vamos sair. Estamos no aguardo de grandes notícias que, ao mesmo molde da Lactalis, mas de forma diferente, nos darão garantia de continuidade aos nossos produtores de aves e suínos”, sinaliza.

Assim como na produção de leite, se houver demais negociações para a cooperativa e parcerias, os funcionários e produtores serão realocados e admitidos. “A empresa que fizer parceria vai precisar de funcionários. Então podemos tranquilizar nossos colaboradores que tem essa possibilidade”, comenta.

Outras em crise

Outras empresas do setor de proteína animal e lácteos também passam por dificuldades. A BRF teria feito uma mudança de gestão a contragosto no ano passado. Com dificuldades financeiras em 2022, a empresa precisou recorrer a parceiros. A Marfrig injetou dinheiro e assumiu a gestão. As duas famílias Sadia e Perdigão, que formaram o conglomerado BRF, não “apitam” mais nada. Não houve solução e o prejuízo é bilionário, obrigando a vender indústrias de rações pet para pagar dívidas. A intenção é vender cerca de R$ 4 bilhões em ativos.

A Cooperativa Piá, sediada em Nova Petrópolis, enfrenta dificuldades financeiras há meses. Em março e abril de 2022, associados fizeram manifestações e houve preocupação de Fetag,

Dia 12 de dezembro do ano passado, o presidente da Piá, Jeferson Smaniotto, apresentou o pedido de renúncia do comando. O cenário não modificou. Informações apuradas pela reportagem dão conta que as gôndolas de supermercados da Piá em Nova Petrópolis estão em situação mais crítica do que da Languiru em Teutônia.

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