A dengue é a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, principalmente no Brasil. E nos últimos anos, o Estado sofre com a epidemia da doença, vendo os números de casos e até de mortes aumentarem a cada temporada.
Conforme o Painel de Dados de Dengue no RS, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, dos 497 municípios gaúchos, apenas oito não estão infestados com a doença. Até o momento (17/2), são 1.141 casos notificados no Estado em 2023, dos quais 125 estão em Encantado, cidade com a maior incidência da doença (485,1) e de positivados (114).
E não é à toa que as prefeituras da região reforçam a cada dia os cuidados com a dengue. Pelo terceiro ano consecutivo, os Vales do Taquari e Rio Pardo disparam em primeiro lugar quanto à incidência de notificações entre as sete macrorregiões de Saúde, com 21,8 ante 6,2 da segunda colocada (Missioneira).
Aprofundando os dados, percebe-se ainda que a região da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde, a qual abrange os municípios do G7, Estrela e Lajeado é a responsável por aumentar a média, com exorbitantes 37,4 de incidência. A segunda colocada é a 13a CRS, de Santa Cruz do Sul, com 14,2.
A única cidade na contramão dos casos alarmantes de dengue é Poço das Antas, que não identificou dados positivos para larvas ou casos durante o levantamento de índices do Aedes aegypti.
Outro exemplo se deu em Paverama, onde foram encontradas 14 larvas e três pupas em uma caixa d’água e em um balde, ambos em residências. Conforme o coordenador da Vigilância Sanitária de Teutônia, Evandro Borba, há focos de dengue em todos os bairros do município, que apresentou um Índice de Infestação Predial (IIP) de 0,3, considerado satisfatório. Em Fazenda Vilanova, o levantamento está em análise, com previsão de entrega para os próximos dias.
A OMS considera que um IIP abaixo de 1% oferece baixo risco de infestação, enquanto que de 1% a 3,9% considera-se médio risco e, acima de 4%, alto risco.
Persistem as falhas
Os dados preocupantes levantados acima não são uma novidade, e a piora dos casos ano após ano parece demonstrar que não há uma preocupação real sobre o assunto por parte da comunidade. Isso porquê, segundo dados do Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) de Lajeado, por exemplo, 80% dos focos do mosquito são encontrados em residências ou próximo a elas.
“Isso que o combate ao mosquito não é uma novidade, é um problema recorrente e os cuidados deveriam ser rotineiros por parte de todos”, comenta o secretário de Saúde de Estrela, Celso Kaplan. “Quase a totalidade das ocorrências se dá nas residências particulares, o que limita e dificulta o trabalho de nossas equipes, sem considerar que seria impossível verificar todas as casas”, alerta.
Para a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Estrela, Carmen Hentschke, as pessoas ainda não estão comprometidas com a eliminação dos criadouros. “O maior perigo não está na poça de água ocasionada pela chuva na rua ou outros ambientes naturais, mas sim nas embalagens artificiais como vaso de planta da sua casa, ou um balde ou pote velho parado no pátio, na piscina não tratada com cloro, na bromélia. E com a questão da seca, muitas pessoas têm tomado o cuidado de reservar água, mas não da forma correta”, explica Carmen.
LIRAa
O LIRAa é um levantamento usado para identificar o Índice de Infestação Predial (IIP) que, por sua vez, classifica a situação de cada município quanto à ocorrência de casos das quatro doenças transmitidas pelo mosquito.
Durante o LIRAa, agentes de saúde e de endemias visitam residências de quarteirões sorteados e coletam amostras de larvas de mosquitos, encontradas em água parada. A primeira edição da amostragem, relativa a janeiro, explica a grande notificação de casos na região, conforme a tabela.
