“O esporte me deu oportunidades em meio às limitações”

A paveramense Tais da Costa Silva representa mais do que um simples talento no esporte. Aos 15 anos, ela é um símbolo de superação, dedicação e inspiração não apenas para os esportistas, mas para quem exerce qualquer outra função.

O caminho de Tais no esporte é inseparável de sua luta pessoal. Com 6 anos, foi diagnosticada com osteossarcoma na perna direita, um tipo agressivo de câncer ósseo. O diagnóstico precoce, feito após sua mãe perceber um nódulo incomum, levou a um tratamento desafiador, que incluiu quimioterapia, internações, UTI e até uma parada cardíaca. A amputação aconteceu por meio de uma desarticulação do joelho.

Logo após o tratamento, Tais deu início a um novo capítulo: a reabilitação e o esporte. Começou pela natação para fortalecer o corpo. Os resultados vieram rápido e o talento chamou atenção de treinadores. Depois, iniciou sua trajetória no vôlei sentado e, mais recentemente, no parabadminton. E ela segue praticando todos.

Hoje, ela soma 23 medalhas, a maioria de ouro, e participa de competições escolares e regionais.

Convocação

Recentemente, a jovem foi convocada pela terceira vez consecutiva pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para o Camping Escolar Paralímpico, projeto que reúne os principais atletas em idade escolar do país em modalidades adaptadas.

“Me sinto muito feliz e lisonjeada por ser convocada para mais um Camping Escolar. É um orgulho muito grande conseguir ir para lá, onde estão grandes atletas. É muito bom estar no Comitê Paralímpico”, declara.

O Camping consiste em uma semana de treinamentos intensos, com sessões pela manhã e à tarde, além de palestras à noite. Quando há tempo livre, os atletas ainda passam por sessões de recuperação, como piscina de gelo. Todos os participantes recebem uniforme, alimentação, hospedagem e passagens aéreas custeadas pelo CPB.

Para Tais, representar o Rio Grande do Sul é motivo de grande orgulho. Ela e Willyan Gabriel de Souza da Silva são os únicos gaúchos convocados para a edição de 2025, e ambos representam a Associação Superlego, destaque nacional no desenvolvimento do paradesporto.

Falta de apoio financeiro e a incerteza no esporte

Natural de Paverama, Tais divide sua rotina entre os treinos em Porto Alegre e Canoas e os estudos na cidade natal. Sem patrocínio fixo no momento, ela necessita do apoio dos pais para se deslocar diariamente. “Treino de segunda a sábado. Mas, no momento, não sei até quando vou conseguir continuar, porque não tenho patrocínio”, lamenta. Pela manhã, ela se dedica à escola, e nas terças-feiras, estuda até as 17h20, quando a mãe a busca diretamente para os treinos.

Mesmo com os desafios financeiros e físicos, como o alto custo das próteses – a atual está avaliada em R$ 65 mil – Tais segue firme. “Uso uma prótese cheia de brilho, para estar sempre bem bonita”, conta, com o mesmo entusiasmo de quem nunca deixou a vaidade de lado, nem mesmo nos momentos mais difíceis.

“Não consigo mais imaginar minha vida sem o esporte. Ele me mostrou que o que parecia limitação virou oportunidade.
E me trouxe amigos, força e muita alegria.”

Modelo, atriz e estrela da vida

Paralelamente ao esporte, Tais realiza sonhos que pareciam distantes. Desde pequena, dizia que queria ser modelo. Mesmo durante o tratamento contra o câncer, andava com sua bolsa de maquiagem e acessórios.

“A fase mais difícil foi perder o cabelo. Sempre fui muito vaidosa. Quando soube que perderia a perna, fiquei triste, mas por incrível que pareça, nada se comparava à dor de perder o cabelo”, lembra Tais. “Graças a Deus e todo o apoio de minha família e amigos, tudo ficou mais leve. Cada um deles ficou comigo para superarmos o câncer”, afirma.

Essa paixão a levou a desfiles e comerciais (para diferentes marcas e locais) e à atuação no cinema.

A jovem atleta participou do filme “Uma Carta para o Papai Noel”, em 2023. Já participou de entrevistas em programas de rede nacional e hoje é uma figura reconhecida em eventos inclusivos e de empoderamento.

“Sempre gostei de fotos, maquiagem e câmeras. Mesmo durante o tratamento,
já me arrumava. Era a forma de me sentir bem, mesmo nos piores dias.”
Tais da Costa Silva
Atleta, modelo e atriz