Apae de Lajeado promove debate sobre a deficiência e o mercado de trabalho

Rafael Faria Giguer é auditor fiscal de Inspeção do Trabalho no Rio Grande do Sul.

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Créditos: Renata Leal / AI APAE Lajeado

Na noite de quarta-feira (3/5), a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Lajeado realizou, na Acil, o evento “Um novo olhar na semana do trabalho”. O palestrante foi o auditor fiscal de Inspeção do Trabalho no Rio Grande do Sul, Rafael Faria Giguer.

Rafael é deficiente visual e além de falar da legislação, contou sobre sua vida e experiências no mercado de trabalho, antes de fazer o concurso público. Participaram do evento famílias, alunos e também empresas da região, que puderam escutar mais sobre a deficiência e o mercado de trabalho.

Rafael mora e trabalha em Porto Alegre e conta que palestrar faz parte da atividade que desempenha na fiscalização, pois é necessário orientar as pessoas.

“Sinto que é continuidade do trabalho, mas na prática é mais que isso, tenho experiência como pessoa com deficiência e trabalhando no setor de cotas acontece uma mistura do trabalho com o desejo pessoal de mudar o que aconteceu com o Rafael do passado, quando nunca conseguia emprego na iniciativa privada e, por mais que tivesse qualificação de curso superior, as empresas não me viam, somente minha deficiência visual”, lamentou.

Giguer contou que consegue se colocar no lugar das pessoas que não estão conseguindo emprego, entendendo o que vem por trás das falas das empresas, que muitas vezes é medo, outras preconceito.

O auditor nasceu com uma doença degenerativa na retina e foi, quando criança, na idade da alfabetização, que os pais perceberam que ele enxergava apenas muito de perto e lembraram de uma tia que tinha essa doença.

“Desde a escola fui me adaptando conforme a necessidade. Na faculdade entrei com uma capacidade visual e saí com outra. Mas tinha muito mais limitações. Na época, para fazer concurso contratei alguém para ler. Hoje pego o celular e ele lê qualquer coisa para mim. Moro sozinho com minhas plantas, me locomovo, vou caminhando todo o dia para o trabalho, cerca de 50 minutos e em um dos ouvidos ouço um livro, além de me exercitar e exercitar a mente”, disse.

Segundo Rafael, alguns caminhos lhe deram sorte, mas envolveram estudo, dedicação e o fato de amar o que faz, pois trabalha bem e é produtivo. Se pudesse dar um conselho para aqueles que querem entrar no mercado de trabalho, Giguer sugeriu que o fizessem com amor, vontade e diversão, trabalhando, tratando as pessoas bem e em troca sendo mais felizes.

“Para as famílias, sugiro que acreditem no potencial dos filhos, pois não estarão aqui para sempre e é importante colocá-los para vivenciar o mundo passo a passo. Já para as empresas, vocês são obrigados a contratar pessoas com deficiência, então façam bem, felizes, com gosto e entendam que estão transformando vidas”, enfatizou.

Inserção no mercado de trabalho

A diretora Ana Paula Rech destaca que o papel da Apae, além de escolarizar, reabilitar, incluir e atuar na defesa de direitos é instrumentalizar famílias, comunidade e empresas de que o acesso ao mundo do trabalho é um direito de todos os cidadãos, inclusive das pessoas com deficiência.

“Eles devem ocupar o seu espaço de direito, exercitando a autonomia, a independência e as relações saudáveis fora do contexto familiar, para que tenham realização pessoal, reconhecimento salarial e produtividade”, diz.

Segundo Ana Paula, cada vez mais se entende que todos têm a garantia de espaço e de atuação em qualquer lugar da nossa sociedade. “O Rafael nos envaidece com a presença voluntária, pois além de um depoimento de vida e de superação, traz a legalidade do direito à inclusão no mercado de trabalho. Foi uma oportunidade única de escuta, questionamento e identificação para todas as pessoas: familiares, profissionais, empresas e os mais diversos segmentos que incentivam e defendem a inclusão no mercado de trabalho”, citou.

Saiba mais

Rafael Faria Giguer é auditor fiscal do trabalho do Serviço Federal de Inspeção do Trabalho, engenheiro de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pós-graduado em Saúde e Segurança do Trabalhador e em Acessibilidade e Direitos Humanos. É ex-conselheiro do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Atualmente, atua na fiscalização do cumprimento de cotas para pessoas com deficiência e combate à discriminação no trabalho pela Superintendência Regional do Trabalho no Rio Grande do Sul e como conselheiro do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Porto Alegre.

Créditos: Renata Leal / AI APAE Lajeado
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