Cram de Lajeado muda de endereço e rede de enfrentamento se posiciona contrária

Prefeitura alega ampliação de espaço e conforto às vítimas, mas a entidade entende mudança como retrocesso.

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Crédito: Divulgação

O Centro de Referência em Atendimento à Mulher (Cram) de Lajeado atenderá em casa nova. O serviço de atendimento especializado com mulheres vítimas de violência passará a ser prestado junto ao Centro de Referência Especializada de Assistência Social (Creas), que fica na Rua João Abott, nº 484, no Centro.

Com a proposta, segundo a Prefeitura, além da estrutura de atendimento já existente, o Cram passará a contar com um serviço de Psicologia cinco vezes maior, uma vez que o trabalho passará de 4 horas semanais para 20 horas semanais, qualificando o atendimento das mulheres que buscam o serviço.

A equipe será formada pela coordenadora geral Leila Rodrigues Ponciano (assistente social), coordenadora técnica Aline Rodrigues Flores (assistente social), psicóloga Andréa Spíndola e um assessor jurídico, que está sendo contratado e deve iniciar o trabalho na próxima semana. 

A mudança também permitirá concentrar os atendimentos às mulheres e a seus filhos no mesmo espaço físico, sem a necessidade de deslocamento por parte das vítimas.

Conforme a titular da Secretaria de Desenvolvimento Social do município (SMDS), Céci Gerlach, ao ampliar o serviço e integrá-lo ao Creas, estas mulheres também poderão ter o atendimento dos filhos mais perto. “Hoje, elas precisam se deslocar entre serviços para que seus filhos também tenham um encaminhamento, e agora isso será facilitado. A política de assistência social tem como centralidade o atendimento à família, e se considerarmos que a violência contra a mulher afeta todo o grupo familiar, incluindo, na maioria das vezes, crianças e adolescentes, trazer o atendimento dessa demanda para a SMDS vem ao encontro da oferta de um serviço que atenda a família na sua integralidade”, exploca.

Apresentação da proposta

As mudanças foram apresentadas à Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher em reunião realizada na manhã desta terça-feira (4/7). No encontro, foi abordado o período de transição do serviço e o funcionamento do setor dentro da SMDS, que passará a ser responsável pelo atendimento das demandas de violência contra a mulher.

As alterações já vinham sendo abordadas em reuniões entre a administração e integrantes da rede, com o objetivo de qualificar e ampliar o atendimento destas mulheres. Em 2022, o Cram atendeu 46 mulheres ao longo do ano, sendo que, dependendo do caso, a vítima recebe dois ou mais atendimentos.

Nota de repúdio

Porém, ainda durante a terça-feira, a Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher de Lajeado emitiu nota de repúdio sobre a perda da sede específica para o serviço. Confira:

A Rede de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher de Lajeado, nesta data, em reunião mensal, foi comunicada pela gestão municipal que o CRAM (Centro de Referência de Atendimento à Mulher) não terá mais prédio específico para o atendimento às mulheres e funcionará juntamente ao serviço do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).

A equipe técnica de referência do CRAM, que atuava até a semana passada, foi destituída e não há, até o momento, nova equipe para atender a demanda da violência contra a mulher.

Representantes desta Rede já participaram de reuniões com a gestão e foi amplamente justificada a necessidade de uma política pública específica para a mulher e que o CRAM precisava ser fortalecido, com mais profissionais e com maior carga horária para os atendimentos.

Diante disso, esta Rede entendeu como um verdadeiro retrocesso a informação recebida no dia de hoje e repudia com veemência tal trato com uma política tão importante para enfrentar a violência contra a Mulher.

Perder o espaço físico de atendimento às mulheres representa um grande risco à vida dessas vítimas, tendo em vista que serão atendidas no mesmo espaço em que se atende o agressor, contrariando todas as normas buscadas com lutas históricas de proteção às mulheres.

O fato da gestão não apresentar para a Rede a nova equipe, com a carga horária necessária e sugerida reiteradamente por esta Rede, é inacreditável e demonstra um grande descaso com um assunto tão sério.

Dessa forma, esta Rede formada por representantes de diversos serviços e entidades com relevância na defesa dos direitos humanos das mulheres, manifesta o seu repúdio total ao desmonte da política pública CRAM e demonstra à comunidade lajeadense e regional, a sua perplexidade.

O CRAM precisa continuar existindo de forma autônoma e com o apoio e respeito que as mulheres deste município merecem. Seguiremos lutando para que o CRAM continue existindo com a força de uma política pública essencial e não como um serviço coadjuvante.

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