Vale do Taquari repartido ao meio pela mobilidade urbana

A ponte sobre o Rio Taquari foi a única a se manter de pé e salvou a região de um colapso ainda maior

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Em Poço das Antas, ponte da SUBV colapsou após a ação do Arroio Boa Vista / Crédito: Carla Beckmann

Nunca no Vale do Taquari a mobilidade urbana foi tão discutida. Isso porque a maior tragédia ambiental do Rio Grande do Sul e do país, iniciada em 30 de abril e que persiste até hoje (8/5), destruiu pontes e estradas. Com tamanha catástrofe, a região se viu dividida e cidades inteiras ficaram sem acesso umas às outras, como Roca Sales, Encantado, Arroio do Meio, Forquetinha e Marques de Souza.

A (i)mobilidade urbana causou grande interferência nos resgates, no auxílio externo, na movimentação de pacientes, entre tantos outros gargalos em diversas áreas de atuação. A mobilização, após o desafio humanitário, se encaminha agora para a rápida reconstrução da infraestrutura.

O Vale, segundo o engenheiro e doutor em Ambiente e Desenvolvimento, Ivandro Carlos Rosa, tem característica de cidades pendulares – com pessoas vivendo em um local e trabalhando em outro -, a exemplo de Lajeado, Estrela, Cruzeiro do Sul, Arroio do Meio e Teutônia. “Isso é muito bom, mas agora representa um desafio. Muitas vezes passamos a vida inteira em cima de uma ponte e não nos damos conta. Nessas situações, percebemos a importância e a diferença que trazem para nosso cotidiano”, aponta.

Soma de impactos

O colapso de pontes e rodovias pode ter ocorrido devido a uma soma de impactos nas estruturas, que podem ou não ter começado em setembro de 2023. Na BR-386, entre Lajeado e Estrela, Rosa cita a obra em andamento na ponte e em suas cabeceiras, que estavam sendo alargadas. “Infelizmente pegamos um canteiro de obras em um projeto que já deveria ter sido finalizado. Estava-se criando condições de pistas adicionais, e a destruição preocupa porque são ligações”, diz.

A mobilidade também fez falta no momento de apoio, em que pessoas precisavam chegar em outros pontos dos seus municípios. É o caso das cidades de Imigrante, Colinas, Roca Sales e Teutônia, que teve interditada por duas ocasiões a ponte sobre o Arroio Boa Vista na ERS-128 (Via Láctea). “O plano B de Encantado era a desobstrução do trecho de Fazenda Lohmann a Roca Sales, para então seguir o trajeto Encantado – Roca Sales – Colinas – Estrela. Rotas antigas são muito úteis nesse momento, mas não dá para esquecer que, quando falamos em jogar o fluxo das rodovias para acessos como o de Colinas a Imigrante, que seria roteiro alternativo, as antigas vias não estão preparadas para receber o porte, o peso e a quantidade de veículos”, alerta Rosa.

Alternativas e prevenção

“Aponte do Rio Taquari é o pulmão do Vale do Taquari”, citou em uma oportunidade o secretário de Desenvolvimento Urbano e Metropolitando Carlos Rafael Mallmann. Segundo Ivandro, trabalhava-se junto à CIC VT a possibilidade de um anel viário para Lajeado. “Se avaliarmos que a via duplicada em condições regulares é um ótimo fluxo para caminhões, outros veículos que hoje fazem outros roteiros migrarão para a BR-386 quando estiver totalmente duplicada. Precisamos de rotas alternativas porque, às vezes, o gargalo é o fluxo da ponte, mas em outras a própria rodovia pode criar dificuldades. É necessário um plano B, que hoje não possuímos. Mas o pior é o que está acontecendo, ou seja, nada”, alerta.

O engenheiro reflete que não é apenas o veículo do Vale que transita sobre as pontes e rodovias. “A gente se programa para o que vemos, mas com a infraestrutura é preciso programar para além. Mudaram as perspectivas dos transportes de carga, aumentou a demanda da infraestrutura. Mas o problema é que o poder público atua apenas depois do colapso, e então temos um investimento muito grande. Precisamos trabalhar de forma preventiva”, diz.

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