Fluxo migratório contemporâneo dinamiza pequenas cidades no Vale, indica pesquisa da Univates

Estudo foi conduzido no PPGAD

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Plantio orgânico consorciado / Crédito da foto: Ivandro Rosa / Divulgação

Os fluxos migratórios contemporâneos são diferentes daqueles que o mundo viu acontecer nos séculos XIX e XX. Atualmente há prevalência das migrações ocorrendo no sentido Sul-Sul, ou seja, quando indivíduos deixam seu lugar de origem, situado no Hemisfério Sul, procurando países situados também nesta faixa do globo. 

Essa perspectiva global é o que ocorre no Brasil, que recebe imigrantes oriundos de países da África, Ásia e região do Caribe; e o que também se verifica no Vale do Taquari. Um levantamento do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” (Nepo) também destaca outra característica dos movimentos migratórios humanos do século XXI: a interiorização das migrações, quando os sujeitos que migram se instalam em regiões no interior dos lugares de destino. 

No Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari – Univates o doutor Ivandro Rosa defendeu a tese “Fluxo migratório haitiano dinamizador de espaços em um pequeno município do Vale do Taquari – Rio Grande do Sul – Brasil”, que trata sobre o tema da migrações contemporâneas e o seus reflexos. 

Reflexos da imigração 

“A presença dos imigrantes haitianos num município de pequeno porte no Vale do Taquari tem dinamizado a estrutura desta pequena cidade em diversos espaços: postos de trabalho, entidades religiosas e serviços públicos em saúde, educação e moradia”, afirma o doutor. 

A pesquisa procurou entender, justamente, como as políticas públicas e as redes de apoio têm buscado atender às novas demandas dos imigrantes contemporâneos, no caso do estudo, os haitianos, e quais os reflexos da presença dos grupos de imigrantes para o cotidiano de um município de aproximadamente 2 mil habitantes. O pesquisador investigou o período de 2014 a 2019.

Ao longo do trabalho o doutor observou pontos em que há interação dos imigrantes com a estrutura social local, como por exemplo, os setores públicos de acolhimento, áreas de trabalho e espaços de trocas culturais.

A partir disso concluiu que os imigrantes têm contribuído para as localidades nas quais se instalam, além do auxílio com mão-de-obra, nas linhas de produção, principalmente nos frigoríficos de abate de suínos, também estimulando o dinamismo econômico das cidades, no enriquecimento cultural e na diversidade da população. 

No caso da cidade e do grupo pesquisados por Rosa, os imigrantes, por exemplo, buscam cultivar uma relação de confiança com o comércio local.

Em terrenos não utilizados na cidade, geralmente emprestados por proprietários em troca de manutenção e limpeza, há a instalação de lavouras comunitárias que são utilizadas para plantio de cultivares típicas do Haiti, ou temperos e condimentos que são plantados tanto aqui quanto na ilha caribenha.

“Precisamos conhecer as nossas políticas públicas municipais e as redes de apoio aos imigrantes para podermos aprimorá-las e incluir estas pessoas como cidadãs com direitos de participação na sociedade a qual estão ajudando com seu trabalho e dedicação”, destaca Rosa.

Dessa forma, as relações entre os atores sociais, os locais e os imigrantes, e o espaço que ocupam vai provocando mudanças – reflexos de um tempo em que diferentes culturas são postas lado a lado. 

Ajuda mútua

Rosa revela que observou que os imigrantes também se organizam em grupos e redes de apoio para superar as dificuldades. “Formas colaborativas são utilizadas pelos imigrantes na superação dos desafios, por exemplo, o que chamam de SAN – ‘Sociedade Amigos Necessitados’”, diz. 

É um sistema de governança interno criado pelos imigrantes, baseado em pacto de confiança, com o objetivo de angariar recursos para atender eventuais necessidades de membros do grupo.

“Alguns emprestam o recurso, e gradativamente o beneficiado vai restituindo os contribuintes. Desta forma acontece uma rotatividade de auxílio a quem necessita”, avalia o pesquisador.

“Com técnicas de plantio orgânico consorciado, os imigrantes que dominam a técnica de cultivo – oriunda do interior do país caribenho, plantam feijão, quiabo, pimentão, batata-doce, guandu, caruru, entre outras”, diz o pesquisador.

No momento da colheita, compartilham o alimento com todo grupo – inclusive com aqueles que são provenientes da capital haitiana, Porto Príncipe,  e que não dominam as técnicas agrícolas.

Imigração 

A Univates desenvolve diversas atividades voltadas aos imigrantes e, também, a entender os reflexos e os motivos dos processos migratórios contemporâneos no Vale do Taquari.

Pesquisas com a de Ivandro Rosa são um exemplo, e projetos de extensão e pesquisa se somam ao trabalho institucional em torno da temática. Faz uma década da chegada dos primeiros imigrantes haitianos à região do Vale do Taquari.

Estima-se que, de 2010 a 2019, se instalaram na região 2,6 mil imigrantes internacionais. Aproximadamente 1,7 mil são haitianos. Os outros 900 são de originários de 50 nacionalidades.

Por exemplo, recentemente, uma parceria com o programa Migrante Empreendedor, da Organização das Nações Unidas (ONU), e executado pelo Instituto Besouro de Fomento Social, foi implementada pela Instituição.

O programa tem como objetivo contribuir para a integração econômica sustentável por meio da promoção de empregos formais e trabalho autônomo entre os migrantes dos países vizinhos ao Brasil. 

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