Moradores denunciam descarte incorreto de lixo e intervenção em fontes de água em Teutônia

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Área da Rua Guilherme Trennepohl é de propriedade municipal /

Morador da Rua Guilherme Trennepohl, no Bairro Canabarro, há 25 anos, o aposentado José Martins comenta que esta é a primeira vez que as águas do seu açude estão secando. “Faça inverno ou verão, aqui sempre havia água corrente. Hoje, está tudo parado”, comenta. Com os níveis sempre abundantes, Martins aponta para as águas agora paradas e enfatiza: “até semana passada, tudo estava normal. Aí então, a Prefeitura realizou reparo em um cano e isso aconteceu. As obras foram feitas na segunda (2/1) e na terça de manhã já não havia mais água como antes”, diz.

O aposentado também relata que a equipe da capatazia do bairro veio até o local e que não havia o que fazer. “Disseram que não há vertentes no local, e sim que foi consertada a rede de água que estava quebrada. Se for isso, parece falta de capricho da prefeitura, que em 25 anos não conseguiu consertar um cano. Mas a gente sabe que na rua havia uma sanga que abastecia os açudes”, frisa.

As obras na Rua Leopoldo Tiggemann não afetaram apenas Martins, mas também seus vizinhos, pois o açude abastecia outros três. Abaixo deles, as águas correm para um riacho que, por sua vez, abastece um córrego conhecido por populares como “fedorento/catinguento” – nome dado devido ao despejo de efluentes pelo antigo cortume. “Pedi auxílio da Prefeitura para abrir caminho de volta do açude abandonado ao lado do meu, mas eles alegam que não há máquinas”, lamenta.

Mas a falta de água não é o único problema citado por Martins. Em frente às obras realizadas na Rua Leopoldo Tiggemann, local da sede da Associação dos Moradores da localidade, o aposentado relata haver descarte incorreto de entulhos acima de vertentes de água. Segundo outros moradores das redondezas, estes despejos começaram a ser feitos pelo Executivo, e há relatos de outras empresas que também vêm depositando resíduos.

“No início eram entulhos de obra, mas hoje já se vê materiais que deveriam estar em locais seguros e que podem afetar as águas logo abaixo. Até arrancaram a placa de ‘proibido atirar lixo’ para entrar com os caminhões. E o açude abandonado ao lado do meu, no qual era possível tomar banho, agora também é depósito de lixo”, denuncia Martins.

O morador ainda comenta que a falta de circulação da água e o depósito irregular causa aumento de mosquitos como o borrachudo. “Na última vez que vieram passar veneno aqui, desceram até o campinho que alugo, me entregaram o veneno e disseram que eu mesmo poderia passar no local. Quanto aos focos de mosquito da dengue, nem olharam”, critica.

Contraponto
Segundo a secretária de Agricultura e Meio Ambiente de Teutônia, Lídia Dhein, na segunda-feira em que o conserto foi realizado, a fiscalização ambiental acompanhou a vistoria e confirmou que não se tratava de uma vertente, mas sim de uma rede de água danificada. “O descarte irregular também foi constatado e a fiscalização ambiental está buscando identificar os responsáveis. Em breve as capatazias providenciarão a limpeza, mas é preciso que haja conscientização para que o problema não volte a ocorrer no local”, comenta. Quanto à informação de que seria a Prefeitura a realizar o descarte incorreto, Lídia ressalta: “não procede”.

Rogério Hauschild (Cuia), funcionário da capatazia de Canabarro, cita que os moradores da rua reclamavam há anos de falta de água e de pressão nos canos. Após muita procura, foi encontrado o vazamento na rede geral de abastecimento, que foi consertado. “Os moradores já sentiram a melhora”, pontua. Segundo Hauschild, a área ao lado do açude de Martins é um banhado, e a água vazada da rede fazia vertente para o açude. “Dissemos que não podíamos fazer nada porque banhados e áreas verdes são de responsabilidade do Meio Ambiente”, sinaliza.

Já quanto ao descarte de lixo, afirmou também que não foi causado pela prefeitura. “Temos contrato com uma empresa de Guaporé que realiza o recolhimento de móveis velhos, que são queimados em olarias, de galhos moídos, transportados para Estrela, e de entulhos, que são descartados em local apropriado”, complementa.

A área verde, de propriedade do município, é também sede da Associação dos Moradores. Conforme o presidente Carlos Kowalski, o descarte de lixo havia sido feito por moradores das proximidades e prometeu que até segunda-feira (16/1) os materiais seriam completamente retirados do local com auxílio da prefeitura.

Outros casos
A reportagem do Grupo Popular recebeu durante a semana outras duas denúncias anônimas sobre descarte incorreto de lixo pela Prefeitura de Teutônia. A primeira seria no Centro Administrativo, nas proximidades do antigo Sesi, hoje EMEI Darcy Ribeiro, e da igreja IMEEC. Segundo a fonte, no local são depositados pneus, móveis, sofás e ferro velho, entre outros materiais. “O número de ratos e baratas é insuportável. Já fizemos denúncia junto ao Ministério Público e estamos em contato com a Polícia Ambiental”, cita a fonte.

Consultada, a prefeitura admite que na área, de propriedade do município, há o depósito de mobiliário inerte recolhido nas ruas, para fim de destinação correta dos resíduos pela empresa B&M Soluções Urbanas LTDA. Porém, cita que os materiais são colocados de forma provisória. Já a segunda denúncia, com a qual veio acompanhado vídeo de veículo do Executivo realizando o descarte de materiais de construção, teria ocorrido em uma área particular no Bairro Alesgut, nas do Arroio Boa Vista. Até o fim desta reportagem, a prefeitura não havia retornado investigação sobre o ocorrido.

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