Especialistas da UFRGS afirmam que gravidade da inundação de 5 de setembro poderia ter sido prevista

Dentre as ações para mitigar próximos eventos, eles apontam melhor preparação das Defesas Civis e levantamentos em alta resolução e detalhados.

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Crédito: Camille Lenz da Silva

Uma equipe de nove professores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS publicaram nota na qual afirmam que era possível saber, com quase 24 horas de antecedência, que a cheia do Rio Taquari em Lajeado seria de grande magnitude.

Segundo os acadêmicos, com a queda da ponte de ferro sobre o Rio das Antas entre Farroupilha e Nova Roma do Sul cerca de 24 horas antes da tragédia em Lajeado, era possível prever as proporções com que a água chegaria ao Vale do Taquari.

“Ao longo do rio, a distância entre a ponte de ferro e Lajeado é de 170 km. No mesmo momento em que caía a ponte de ferro sobre o rio das Antas, o monitoramento de chuva do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no município de Serafina Corrâa, situado entre os rios Carreiro e Guaporé, dois dos mais importantes tributários do rio Taquari‐Antas, indicava precipitação acumulada de 280 milímetros desde o início da noite do dia 1º de setembro. Esse valor corresponde a 97% do total de chuva que foi registrado no local neste evento de cheia. Em outros locais da bacia a maior parte da chuva que resultou na inundação também já havia ocorrido no final da tarde do dia 4. Pouco tempo depois, a Companhia Energética Rio das Antas registrava a vazão máxima de 9.783 metros cúbicos por segundo na Usina Hidrelétrica Castro Alves, localizada 180 km de Lajeado, deixando claro que a cheia do rio Taquari‐Antas seria extraordinária”, destacam.

Eles explicam que, nas outras cidades atingidas no Vale do Taquari, como Roca Sales e Muçum, a antecedência entre os fatos observados e as inundações locais não é tão grande como em Lajeado, mas ainda assim seria possível prever, com várias horas de antecedência, que uma inundação com potencial de desastre iria ocorrer.

Para os pesquisadores, a cadeia de ações de prevenção, preparação e alerta dos impactos da inundação não funcionou adequadamente. “Por que, então, as pessoas tiveram que subir nos telhados das casas? Por que estas pessoas não foram encaminhadas, previamente, para locais seguros, de preferência com pelo menos alguns dos seus pertences?”, indagam. Segundo eles, isso pode ter acontecido por uma série de motivos. “Talvez as pessoas não soubessem que moravam em local perigoso, ou permaneceram porque não foram avisadas, ou ainda porque consideraram que os avisos não tenham credibilidade”, disseram.

Eles apontam que, apesar dos avanços científicos e da implementação de sistemas de monitoramento e alerta, ainda existem várias lacunas que precisam ser melhor desenvolvidas dentro dos protocolos de ação, considerando desde a identificação de possíveis eventos extremos de precipitação a partir dos modelos de previsão do tempo até o monitoramento de chuva e do níveis dos rios e das potenciais áreas de inundação com a devida antecedência, para que a população em áreas de risco possa ser alertada e provida de informações suficientes para minimização de danos e prejuízos. “Nesse contexto, salienta‐se que a simples disponibilidade de dados de previsão meteorológica não garante a efetividade na minimização dos danos e prejuízos frente a esses eventos.”

Ações urgentes e prioritárias

Os pesquisadores propuseram ainda ações urgentes e prioritárias a curto, médio e longo prazo para tentar mitigar os eventos extremos “que, possivelmente, serão intensificados em decorrência das mudanças climáticas globais”:

Ações urgentes e prioritárias (implementação imediata)

Ação técnica: Levantamento topográfico em alta resolução espacial com grande detalhamento da superfície e da elevação do terreno, com disponibilização em bases de dados públicas.

Ação técnica: Levantamento topobatimétrico dos principais rios, com disponibilização em bases de dados públicas. Esta ação deve ser cíclica, sendo que os levantamentos devem ser atualizados após modificações ocorridas nas cursos e calhas dos rios.

Ação técnica: Identificação de áreas de perigo de inundação, para, em futuro próximo, desenvolvimento de planos adequados de ocupação.

Ação técnica: Melhorias no sistema de alerta à população, com utilização de diferentes alternativas de comunicação (telefone celular, sirenes, alto‐falantes e outros) e com maior detalhamento das informações e das ações necessárias, buscando maior eficácia na comunicação.

Confira o documento na íntegra com as ações de curto, médio e longo prazo abaixo:

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